Abstract
A liberdade, desnecessário dizer, é fundamental para a literatura: autores e leitores, quanto mais livres, mais podem exercer a imaginação. Entre a consciência criadora e a consciência que interpreta, a obra literária apresenta um modo de pensar a liberdade ao tratar de personagens cujas idiossincrasias revelam modos de ser livre. Com isso em mente, e à luz dos trabalhos de Mikhail Bakhtin, sobre a polifonia, de Michel Zéraffa, sobre a personagem, e de Jean-Paul Sartre, sobre a liberdade, evidenciaremos como e por que esta se encontra no último romance escrito pelo autor russo Fiódor Dostoiévski, Os irmãos Karamázov (1880), história do assassinato (ou do parricídio) de Fiódor Karamázov, cujos filhos demonstram significados particulares para a liberdade: algo visceral para Dmitri, algo cerebral para Ivan, algo espiritual para Alieksiêi e algo irracional para Smierdiakóv. Dessa forma, para além do que há de explícito na superfície textual, sublinharemos que a liberdade se encontra, também, nos elementos que estruturam e dão forma à obra, os quais denominaremos, neste estudo, de “indícios de liberdade”, isto é, aspectos narrativos capazes de ampliar, para as personagens e para o leitor, a indeterminação (e, consequentemente, a exigência imaginativa) relacionada ao que é narrado.
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