Abstract
Este trabalho propõe uma relação entre Fiódor Dostoiévski e Clarice Lispector, particularmente entre o romance Crime e castigo, de 1866, e o romance A maçã no escuro, de 1961. A relação entre os dois é evidente – Dostoiévski está reconhecidamente entre as fontes desta obra de Lispector. Este artigo privilegia um dos pontos de contato entre os dois: o de uma discussão em torno da noção de agência, em tensão com a de passividade. O objetivo é demonstrar a maneira como ambos os romances perturbam o estabelecimento de um binômio que identificaria duas instâncias opostas – agência e passividade aqui não se opõem, mas participam de uma imbricação. Assim, o que se investiga, nessas obras, é uma questão ética: o que é, afinal, agir? Para tanto, pontuam-se discussões teóricas como a diferença entre homens e animais, e retomam-se lugares críticos como a relevância do conflito trágico na obra de Dostoiévski. Assim, encaminha-se um pensamento da ação, sobretudo a partir da hesitação entre a abstração e a realização, que um ato é, afinal, capaz de concentrar.
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