Além do bem e do mal: a liberdade, a pessoa e o self de Dostoiévski e dos existencialistas Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir
Resumen
O artigo busca investigar algumas das possíveis relações entre o autor russo do século XIX Fiódor Dostoiévski e os existencialistas franceses do século XX Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Para isso, foi desenvolvido um eixo temático que está presente nos livros Memórias do Subsolo (2009) e Crime e Castigo (1866), assim como na teoria existencialista moderna teorizada por ambos os filósofos franceses. Focaremos nas concepções da liberdade sob uma perspectiva ontológica e também existencial, assim como na relação entre a autoformação e o outro. Nesse contexto são problematizadas as noções de liberdade e a dinâmica interpessoal na construção do eu. Procuramos compreender a ênfase de Dostoiévski sobre a importância do sofrimento e do sacrifício como sendo inextricáveis para a existência da liberdade humana nos romances do autor. A teoria do engajamento sartriana questiona a possibilidade de conciliação entre a liberdade individual e uma relação comunitária, algo que pode ser um contraponto à hostilidade inevitável ao outro que a definição da soberania absoluta do self impõe. Por fim, também é analisada a perspectiva de liberdade apresentada por Simone de Beauvoir, que ressalta a autocriação humana como necessária para o self.
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