O inkosi Ngungunhane entre a história e a memória em Moçambique: Ualalapi (1987), de Ungulani Ba Ka Khosa

Autores

Palavras-chave:

História e Literatura, Moçambique, Ungulani Ba Ka Khosa.

Resumo

O artigo problematiza as representações literárias de Ngungunhane, o último inkosi (chefe, rei) de Gaza, um centro de poder localizado no sul de Moçambique durante o século XIX, a partir do romance Ualalapi (1987), do escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa.Após a independência de Moçambique em 1975, o governo moçambicano, encabeçado pela Frente de Libertação Moçambicana (FRELIMO), buscou reelaborar a memória coletiva acerca de Ngungunhane, transformando-o em herói nacional em um contexto de crises políticas e sociais, sobretudo durante a guerra civil (1977-1992). A idealização de Ngungunhane foi problematizada por Ba Ka Khosa em Ualalapi, no qual, ao apresentar uma versão despótica e cruel de Ngungunhane, estabelece uma crítica às ações políticas promovidas pelo governo frelimista e o contexto de violência que marcou a guerra civil moçambicana, além de reivindicar uma leitura mais plural sobre os passados moçambicanos.

Biografia do Autor

Evander Ruthieri da Silva, Universidade Federal da Integração Latino-Americana.

Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor de História da África na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Professor no Programa de Pós-Graduação em História da UNILA. E-mail: evander.silva@unila.edu.br

Sullian Vasconcelos Santos, Universidade Federal da Integração Latino-Americana.

Graduada em História pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). E-mail: sv.santos.2018@aluno.unila.edu.br

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Publicado

2024-07-02