ENSAIO PARA O ACIDENTAL: A LOUCURA E A QUEDA EM RANCIÈRE, BAS JAN ADER E DOM QUIXOTE / Essay for the accidental: loucura and fall in Rancière, Bas Jan Ader and Dom Quixote
DOI:
https://doi.org/10.37235/ae.n41.13Resumo
A partir de duas figuras que marcam a modernidade – René Descartes e dom Quixote – pensamos como configuram modos de pensamento diversos e opostos. Entre o método que busca o encadeamento causal das coisas e a errância do corpo entregue às aventuras da imaginação, o filósofo e o cavaleiro instauram um embate que não é aquele entre a razão e o sensível, mas sim, entre dois modos da razão. Nosso intuito é pensar, especialmente a partir de Jacques Rancière, como o cavaleiro errante teria aberto um novo campo da experiência sensível que denominamos acidental, cujo gesto é a recusa da lógica do encadeamento causal cartesiano. Damos a ver, ainda, o modo como o gesto inaugurado por dom Quixote será reverberado nos gestos do artista contemporâneo Bas Jan Ader, com seu empenho em buscar a queda tal qual dom Quixote buscara a loucura. O que surgiria com a recusa da causalidade no cavaleiro e no artista, em nossa hipótese, é uma mudança de estatuto da própria noção de acidente ou acidental que, deixando de ser considerado erro a ser evitado, passará a ser experienciado como a única possibilidade para um mundo pautado na contingência da vida.
Palavras-chave: Heterogêneo sensível; Experiência acidental; Jacques Rancière; Errância; Modos de pensamento.
Abstract
Based on two figures that marks the modernity − René Descartes and Don Quixote − we think about how they configure different and opposite modes of thought. Between the method that seeks the causal chain of things and the wandering of the body given over to the adventures of the imagination, the philosopher and the knight establish a clash that is not that between reason and sensible, but between two modes of reason. We think, especialy from Jacques Rancière, how the errant knight would have opened up a new field of the sensible experience that we call accidental, whose gesture is the refusal of the logic of the Cartesian causal chain. We also show how the gesture inaugurated by Don Quixote will be reflected in the gestures of the contemporary artist Bas Jan Ader, with his efforts to seek the fall just as Don Quixote sought madness. What would arise with the refusal of causality in the rider and in the artist, in our hypothesis, is a change in the status of the very notion of accident or accidental that, no longer being considered as an error to be avoided, will now be experienced as the only possibility for a world based on the contingency of life.
Keywords: Heterogeneous sensible; Accidental experience; Jacques Rancière; Wandering; Forms of thinking.
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