Ecocentrismo e sua Aplicabilidade em Estudos da Geodiversidade

Authors

DOI:

https://doi.org/10.11137/2020_3_415_424

Keywords:

Ecocentrismo, Antropocentrismo, Geodiversidade

Abstract

Nos estudos da natureza, percebe-se o predomínio de uma ética antropocêntrica, que coloca o ser humano no centro das avaliações e destaca algum elemento do meio ambiente devido à importância que tem para a manutenção do bem-estar das sociedades, através do uso ou benefício antrópico. Esta ética é presente na ciência desde as concepções de René Descartes na busca pela objetividade e razão, o que posicionou o ser humano como o “dono” da natureza. Esta compreensão é observada em diversos setores da sociedade e da ciência e predomina no entendimento dos chamados serviços ecossistêmicos, em voga atualmente nos estudos da biodiversidade e também da geodiversidade, e que são definidos como condições e processos naturais que sustentam a vida humana ou ainda como benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas. Porém, sendo o ecossistema um conjunto que envolve elementos abióticos e bióticos, percebe-se que a humanidade é apenas uma parte deste todo e que, por possuir capacidade de pensamento e de julgamento de direito, deve ser responsável por proteger os recursos naturais, utilizando-o de forma sustentável, mas compreendendo que a natureza é o centro do universo. Esta concepção define a ética ecocêntrica, que surge a partir das ideias de Aldo Leopold na década de 1940, mas que passa a ser mais bem conceituada na década de 1980. Atualmente, já existem pesquisadores que se debruçam sobre os temas do ecocentrismo e vêm publicando estudos em diversas áreas com foco nesta ética ambiental. No Brasil, existe uma multidisciplinaridade no uso do termo, tendo sido identificadas 48 teses e dissertações nos últimos 21 anos que tenham abordado a temática, principalmente, nas áreas de Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas e Ecologia. Através de um estudo de revisão bibliográfica, este trabalho tem o objetivo de apresentar a ética ecocêntrica como contraponto ao antropocentrismo e avaliar a sua aplicabilidade nos estudos da geodiversidade, que concluiu-se ser possível e necessária.

References

Abreu, I.S. & Bussinguer, E.C.A. 2013. Antropocentrismo, Ecocentrismo e Holismo: uma Breve Análise das Escolas de Pensamento Ambiental. Derecho y Cambio Social, 34: 1-11.

Brilha, J. 2016. Inventory and Quantitative Assessment of Geosites and Geodiversity Sites: a Review. Geoheritage, 8(2): 119-134.

Câmara, A.S.V.M. 2017. Direito Constitucional Ambiental Brasileiro e Ecocentrismo: um diálogo possível e necessário a partir de Klaus Bosselmann. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 294p.

Castro, P.T.A.; Ruchkys, U. & Manini, R.T. 2018. A sociedade civil organizada e o rompimento da Barragem de Fundão, Mariana (MG): porque é preciso difundir a Geoética. Terræ Didatica, 14(4): 439-444

Comer, P.J.; Pressey, R.L.; Hunter Jr, M.L.; Schloss, C.A.; Buttrick, S.C.; Heller, N.E.; Tirpak, J.M.; Faith, D.P.; Cross, M.S. & Shaffer, M.L. 2015. Incorporating geodiversity into conservation decisions. Conservation Biology, 29(3): 692-701.

Daily, G.C. 1997. Introduction: What are Ecosystem Services? In: DAILY, G.C. (Ed.). Nature’s Service: societal dependence on natural ecosystem. Island Press, p. 1-10.

Eckersley, R. 1990. Habermas and green political thought: two roads diverging. Theory and Society, 19: 739-776.

ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. 2019. Ecosystem. Disponível em: <https://www.britannica.com/science/ecosystem>. Acesso em: 21 jan 2020.

Fisher, B.; Turner, R.K. & Morling, P. 2009. Defining and classifying ecosystem services for decision making. Ecological Economics, 68: 643-653.

Francisco, P. 2015. Carta Encíclica Laudato Si’ do Santo Padre Francisco sobre o cuidado da casa comum. São Paulo, Edições Loyola, 142p.

Gray, M. 2004. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. 1a edição. Chichester, John Wiley & Sons, 434p.

Gray, M. 2005. Geodiversity and Geoconservation: What, Why, and How? The George Wright Forum, 22(3): 4-12.

Gray, M. 2013. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. 2a edição. Chichester, John Wiley & Sons, 495p.

Grün, M. 2009. Descartes, Historicidade e Educação Ambiental. In: CARVALHO, I.C.M.; GRÜN, M. & TRAJBER, R. Pensar o Ambiente: bases filosóficas para a Educação Ambiental. Ministério da Educação, p. 63-78.

Hay, R. 2010. The Relevance of Ecocentrism, Personal Development and Transformational Leadership to Sustainability and Identity. Sustainable Development, 18: 163-171.

Hermann, N. 2009. Rousseau: o retorno à natureza. In: CARVALHO, I.C.M.; GRÜN, M. & TRAJBER, R. Pensar o Ambiente: bases filosóficas para a Educação Ambiental. Ministério da Educação, p. 93-110.

Holt-Wilson, T. 2010. Norfolk’s Earth Heritage – Valuing Our Geodiversity. Norwich, Norfolk Geodiversity Partnership, 74p.

Kiernan, K. 1996. Landform classification for geoconservation. In: EBERHARD, R. (Ed.). Pattern & Process: Towards a Regional Approach to National Estate Assessment of Geodiversity. Australian Heritage Commission and Environment Forest Taskforce, p. 21-34.

Kopnina, H. 2012. The Lorax complex: deep ecology, ecocentrism and exclusion. Journal of Integrative Environmental Sciences, 9(4): 235-254.

Kopnina, H.; Washington, H.; Taylor, B. & Piccolo, J.J. 2018. Anthropocentrism: More than Just a Misunderstood Problem. Journal of Agricultural and Environmental Ethics, 31: 109-127.

Lage, C.S.; Peixoto, H. & Vieira, C.M.B. 2008. Aspectos da vulnerabilidade ambiental na Bacia do Rio Corrente-BA. GeoTextos, 4(1-2): 11-36.

Leopold, A. 1949. A Sand County Almanac and Sketches Here and There. Nova Iorque, Oxford University Press, 226p.

Mansur, K.L. 2018. Patrimônio geológico, geoturismo e geoconservação: uma abordagem da geodiversidade pela vertente geológica. In: GUERRA, A.J.T. & JORGE, M.C.O. (Org.). Geoturismo, Geodiversidade, Geoconservação: abordagens geográficas e geológicas. Oficina de Textos, p. 1-49.

Matteucci, R.; Gosso, G.; Peppoloni, S.; Piacente, S. & Wasowski, J. 2014. The “Geoethical Promise: A Proposal. Episodes, 37(3): 190-191.

MA – Millenium Ecosystem Assessment 2005. MA Conceptual Framework. In: MILLENIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT. Ecosystems and Human Well-being: A Framework for Assessment. Island Press, p. 1-25.

Morelli, J. 2011. Environmental Sustainability: A Definition for Environmental Professionals. Journal of Environmental Sustainability, 1(1): 1-9.

Nascimento, M.A.L.; Ruchkys, U.A. & Mantesso-Neto, V. 2008. Geodiversidade, geoconservação e geoturismo: trinômio importante para a proteção do patrimônio geológico. São Paulo, SBGEO, 82p.

O’Riordan, T. 1985. Research policy and review 6. Future directions for environmental policy. Environment and Planning A, 17(11): 1431-1446.

O’Sullivan, P.E. 1986. Environmental science and environmental philosophy — part 1 environmental science and environmentalism, International Journal of Environmental Studies, 28: 97-107.

Purser, R.E. & Montuori, A. 1996. Ecocentrism in the Eye of the Beholder. The Academy of Management Review, 21(3): 611-613.

Reynard, E. 2005. Géomorphosites et paysages. Géomorphologie: relief, processus, environnment, 3: 181-188.

Salinger, J. 2010. The climate journey over three decades: from childhood to maturity, innocence to knowing, from anthropocentrism to ecocentrism... Climate Change, 100: 49-57.

Sharples, C. 1995. Geoconservation in forest management – principles and procedures. Tasforests, 7: 37-50.

Sharples, C. 2002. Concepts and Principles of Geoconservation. Tasmanian Parks & Wildlife Service, 79p.

Suárez, E.; Salazar, M.E.; Hernández, B. & Martín, A.M. 2007. ¿Qué motiva la valoración del medio ambiente? La relación del ecocentrismo y del antropocentrismo con la motivación interna y externa. Revista de Psicología Social, 22(3): 235-243.

Silva, M.L.N.; Mansur, K.L. & Nascimento, M.A.L. 2018. Serviços Ecossistêmicos da Natureza e sua Aplicação nos Estudos da Geodiversidade: uma Revisão. Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ, 41(2): 699-709.

Thompson, S.C.G. & Barton, M.A. 1994. Ecocentric and Anthropocentric Attitudes Toward the Environment. Journal of Environmental Psychology, 14(2): 149-157.

Tolentino, Z.T. & Oliveira, L.P.S. 2015. Pachamama e o Direito à Vida: uma Reflexão na Perspectiva do Novo Constitucionalismo Latino-Americano. Veredas do Direito, 12(23): 313-335.

Wade, M.L. & College, T. 1990. Animal Liberalism, Ecocentrism and the Morality of the Sport Hunting. Journal of the Philosophy of Sport, 17: 15-27.

Washington, H.; Taylor, B.; Kopnina, H.; Cryer, P. & Piccolo, J.J. 2017. Why ecocentrism is the key pathway to sustainability. The Ecological Citizen, 1: 35-41.

Weathers, K.C.; Strayer, D.L. & Likens, G.E. 2013. Introduction to Ecosystem Services. In: WEATHERS, K.C.; STRAYER, D.L. & LIKENS, G.E. Fundamentals of Ecosystem Services. Academic Press, p. 3-23.

Willis, A.J. 1997. The Ecosystem: An Envolving Concept Viewed Historically. Functional Ecology, 11: 268-271.

Published

2020-09-30

Issue

Section

Article