Programa de pós-graduação em geografia: teses defendidas - doutorado

Authors

  • Rita de Cassia Martins Montezuma Programa de Pós-graduação em Geografia - PPGG UFRJ

DOI:

https://doi.org/10.11137/2005_2_194-212

Abstract

A cicatriz da Vista do Almirante, localizada no Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro, tem sua origem associada aos eventos chuvosos extremos que ocorreram em fevereiro de 1988. A ocorrência de deslizamento, embora seja evento comum em ambientes montanhosos, tem sua freqüência aumentada em função de interferências antrópicas que alteram a estrutura e a funcionalidade dos ambientes montanhosos. A preservação de remanescentes florestais em encostas passa pela questão do conhecimento dos processos que ocorrem e fluxos relacionados com as paisagens nas quais estes remanescentes estão inseridos. A floresta da Tijuca do Rio de Janeiro apresenta um conjunto de características peculiares, que mesmo contribuindo com uma série de serviços diretos e indiretos para uma grande metrópole, encontra-se gradativamente submetida a todo um conjunto de condições extremas de pressão pela cidade que alteram todo o seu funcionamento. Neste contexto, conhecer como se dão os principais processos ecossistêmicos pode representar uma chave para entender melhor como esta floresta é capaz de se manter e servir como base para propor formas de gestão de tantos outros remanescentes florestais em condições similares encontrados em todo o planeta. O presente estudo tem por objetivo avaliar o processo de formação e recuperação do piso florestal de cicatrizes de deslizamento tendo como premissa que a forma alongada e a reduzida área da cicatriz de deslizamento da Vista do Almirante possibilita uma rápida recuperação estrutural e funcional devido a sua relação com o entorno. Desta maneira, o estudo da estrutura e funcionamento do piso florestal, compreendido em suas complexas relações entre vegetação–fauna-solo, pode fornecer uma síntese sobre o funcionamento do ecossistema. A serrapilheira acumulada no piso florestal desempenha papel crucial na retenção dos nutrientes que garantem a sustentabilidade da floresta, como um berçário para o estabelecimento de novas espécies, tamponando as condições físicas de temperatura, retendo umidade e interferindo na estrutura das populações que compõem essas comunidades, podendo executar papel preponderante na seleção de espécies que vão dominar a guilda de produtores do ecossistema, interferindo na condição hidrológica fundamental tanto no que diz respeito à proteção mecânica do solo como na retenção e redistribuição dos fluxos de água ao favorecer a permeabilidade do solo através do aumento e formação da bioporosidade, cujas resultantes repercutem na escala da bacia. O conjunto de resultados apresentados enfoca o Parque Nacional da Tijuca como um ambiente florestal de intensa relação homem natureza, sujeito aos diversos vetores de transformação que atuam a partir de seu ambiente externo, na sua vizinhança com a urbe, e interno, plena de trilhas e estradas com as mais diversas pavimentações que alteram o ambiente microclimático e provocam canalizações e redirecionamentos da água da chuva, afetando o entorno imediato. Esta condição atrasa o desenvolvimento sucessional nas clareiras abertas naturalmente ou favorecidas por estas ações, aumentando as áreas de colonização por espécies próprias desse ambiente. Reduzindo em igual proporção as áreas de melhor condição vegetacional que garante a sustentabilidade florestal em todos os seu aspectos. Embora as grandes clareiras tenham ocorrido em menor freqüência nos últimos anos, a lenta recuperação observada na cicatriz da Vista do Almirante sugere que estas áreas podem agravar o risco de recorrência a novos distúrbios. Isto associada a peculiaridade da Floresta da Tijuca como floresta urbana e de uso intensivo deve ser interpretada como uma área de necessário manejo constante, cujos custos a sociedade deve pagar a título de assegurar os serviços ambientais por ela prestados.

Published

2005-01-01

Issue

Section

Scientific Production