“Zero nada, zero”: uns índios Guimarães Rosa, sua fala

Autores

  • Bairon Oswaldo Vélez Escallón Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria - RS

DOI:

https://doi.org/10.1590/1517-106x/20182025373

Resumo

Este artigo aborda a crônica “Uns índios (sua fala)”, publicada por Guimarães Rosa no jornal A manhã em 1954. Nessa crônica, o escritor relata o seu encontro, no estado de Mato Grosso, com índios Terenos, a sua expedição a um “arranchamento de ‘dissidentes'” à procura de alguns segredos da surpreendente língua tariana. Como a crônica permite inferir, o fato de essa fala parecer ininteligível é um efeito da intervenção daquele que pretende catalogá-la ou capturá-la num dispositivo de escritura, e as identidades “índio” e “branco” são efeitos produzidos escrituralmente, assim como as distinções entre “civilização” e “barbárie”. Este artigo tentará evidenciar a maneira pela qual essa crônica recolhe alguns dos aspectos que exigem reformular o famigerado caráter documental do corpus Guimarães Rosa, assim como modificar alguns dos pressupostos dos nossos instrumentos de leitura, geralmente cativos de um imperativo representacional.

Biografia do Autor

Bairon Oswaldo Vélez Escallón, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria - RS

Bairon Oswaldo Vélez Escallón é professor de Literatura hispano-americanana Universidade Federal de Santa Maria (Departamento de Letras Estrangeiras Modernas/ Centro de Artes e Letras). Doutor em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (2014) e Profissional em Estudos Literários da Universidad Nacional de Colombia (2006). Pesquisador, tradutor e autor do livro Do tamanho do mundo. O Páramo de Guimarães Rosa --com um Yavaratê (Pitssburgh: IILI/Revista Iberoamericana, 2018).

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2018-07-06

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Artigos