Piglia e a igreja de Arlt
Resumo
É conhecida a imagem de Arlt morto, seu caixão sendo retirado pela janela de um quarto de um prédio pobre de Buenos Aires. Um corpo tão grande, um caixão tão grande, que as escadarias não suportam sua passagem. É conhecida também a assinatura dessa imagem: Ricardo Piglia. E é a partir dela que Roberto Bolaño, em “Derivas de la pesada”, associa Arlt a Jesus Cristo e Piglia a São Paulo: “Arlt teve seu São Paulo. O São Paulo de Arlt, o fundador de sua igreja, é Ricardo Piglia”. O presente texto quer explorar a sobreposição dessas figuras, como naqueles álbuns fotográficos que existiam antes do cinema “cujas imagens, rapidamente viradas pelo polegar, mostravam ao espectador lutas de boxe ou partidas de tênis”, dos quais falava Benjamin no conhecido ensaio “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”. Essa exploração deve permitir pensar o efeito de leitura que esses “últimos leitores” alcançam na produção e disseminação de imagens de seus autores prediletos. Uma coleção escrita que conta diferentes versões de mitos habilmente forjados.
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