Teoria das idéias no sistema cartesiano: a questão da fundamentação do conhecimento

Autores

  • Ethel Rocha Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo

Aparentemente, após provar a existência de Deus, eliminando a dúvida introduzida pela possibilidade de um Deus enganador, Descartes pretende conferir validade objetiva a toda percepção clara e distinta. Tomada sem problematização, esse parece ser o sentido da regra geral da verdade sustentada por Descartes, como é apresentada, por exemplo, no Resumo das Seis Meditações Seguintes, nas Meditações: "Na Quarta [Meditação], provase que as coisas que concebemos mui clara e mui distintamente são todas verdadeiras...". Entretanto, sob pena de termos que admitir teses problemáticas como a de que todo erro é voluntário ou a de que mesmo idéias que representam quimeras têm validade objetiva, o sentido dessa regra geral deve ser examinado com cuidado. Neste artigo pretendo problematizar o sentido da regra geral da verdade apresentada por Descartes, tendo como hipótese central a de que o que o sistema cartesiano admite é que nem todas as idéias que nos aparecem como claras e distintas são verdadeiras, mas apenas as idéias que, além de aparecerem como claras e distintas, são efetivamente claras e distintas e, mais ainda, que, dentre essas, nem todas são verdadeiras, mas apenas aquelas que não dependem nem dos sentidos nem da imaginação, mas residem exclusivamente no entendimento puro. Isto é, trata-se de mostrar, que as idéias que têm valor objetivo são exclusivamente as idéias (simples ou compostas) que se constituem, em última instância, como intuições ou deduções de naturezas simples.

 

Abstract

Apparently, after proving God's existence and thus eliminating the doubt introduced by the possibility of a deceiving God, Descartes intends to confer objective validity to all clear and distinct perception. At first, this seems to be the sense of the general rule of truth sustained by Descartes, as it is presented, for example, in the Summary of the Six Next Meditations, in the Meditations: "In the Fourth [Meditation] it is proved that everything that we clearly and distinctly perceive is true ...". This interpretation, however, would lead to admit that Descartes sustains problematic thesis such as "error is voluntary" or "ideas that represent chimeras have objective validity". In this article I intend to analyse the meaning of the general rule of truth, as it is presented by Descartes, having as a central hypothesis that what cartesian system admits is not that all the  ideas that we perceive as clear and distinct are true, but rather that only those ideas that besides appearing to me as clear and distinct are indeed clear and distinct and, moreover, that even among those ideas, not all of them are true, but just those which do not depend neither on senses nor on imagination, but rather reside exclusively in the pure understanding. That is, I intend to show, that the ideas which have objective value are exclusively the ideas (simple or composed) which we constitute, as a last resort, as intuitions or deductions of simple natures.

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Publicado

01-08-2013