Autoridade da primeira pessoa

Autores

  • António Marques Universidade Nova de Lisboa

Resumo

Pretende-se esclarecer o significado da expressão "autoridade da 1ª pessoa" tal como tem sido discutida por alguns autores em filosofia da linguagem e da mente. Na nossa argumentação serão consideradas relevantes as posições de Donald Davidson e de Tyler Burge, nomeadamente no que respeita à valorização da assimetria entre 1ª e 3ª pessoas, enquanto condição de possibilidade da interpretação (no caso do primeiro) e no que respeita à primazia da 1ª pessoa na formação de qualquer concepção racional-prática do mundo (no caso do segundo). Mostrar-se-á que, na discussão da 1ª pessoa, o facto relevante é que esta não tem qualquer autoridade específica relativamente aos conteúdos das suas crenças, mas sim relativamente ao carácter genuíno (ou simulado) das suas formas expressivas da 1ª pessoa. A argumentação dos autores acima citados chamam a atenção para pontos relevantes do problema, no entanto é limitada no que respeita à demonstração de uma racionalidade prática. As defesas de Burge e de Davidson da autoridade da primeira pessoa são diferentes, mas têm em comum o facto de não dirigirem essa defesa para a prova da existência de sujeitos, enquanto origem de acções. Exploramos então num outro sentido o conceito de autoridade que aqui nos ocupa, a qual passa pela descrição de uma assimetria perfeita, e a priori, das perspectivas da 1ª e 3ª pessoas. Para isso recorremos à exploração gramatical que Wittgenstein faz de frases preditivas. Estas revelam uma assimetria irredutível entre as minhas expressões preditivas na 1ª pessoa do indicativo e outras descrições preditivas na 3ª pessoa. Dizemos também que não faz sentido manifestar surpresa pela realização da nossa própria acção e, desse modo, reconhecemos nela a marca da voluntariedade. Se aquilo a que chamamos racionalidade prática começa por exigir que nos consideremos a nós próprios como agentes ou sujeitos das nossas próprias acções, então o estudo das assimetrias da predição é uma via importante para estabelecer as bases dessa racionalidade.

Abstract


The aim of this paper is to clarify the expression "first person's authority", as it has been discussed by some authors in philosophy of language and mind. In our argumentation we will consider the case of two authors, Donald Davidson and Tyler Burge, namely in what refers to the relevance of the first and third person asymmetry as condition of interpretation (in the case of Davidson) and in what refers to the primacy of the first person to the construction of any rational and practical understanding of the world (in the case of Tyler Burge). It will be shown that, in the discussion of the first person, the relevant fact is the absence of any particular authority in what relates to the content of its beliefs. Semantic fallibility is always an open possibility and authority of first person is not proofed by any irrefutable link between the subject and the contents of his own expressions. The argumentations of Davidson and Burge considering the first person authority are different, but both don't consider as relevant the question of the subjects as agents, that is their rational practical character.Then we will explore in another direction the concept of authority of the first person, which requires an adequate description of a perfect and a priori asymmetry of the first and third person perspectives. This study is exemplified by the grammatical exploration of predictive statements as one can find it in Wittgenstein's philosophy. These kind of statements reveal an irreducible asymmetry between my first person predictive expressions in the present tense and other predictive statements from the third person perspective. We will defend also that it doesn't make sense to show surprise by the fulfillment our own action, in what we may recognize a sign of our will. If what we call practical rationality requires that we consider ourselves as agents or subjects our own actions, then knowledge of prediction asymmetries is an important way to establish the ground of that rationality.

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Publicado

01-08-2013