Acrasia entre Aristóteles e Sócrates
Resumo
A concepção e a explicação que Aristóteles nos propõe do fenômeno da acrasia parece ser um verdadeiro paradoxo. De um lado, ele parece avalizar o senso comum, que considera esse fenômeno uma falta de domínio de si devido à fraqueza da vontade. Por outro lado, contudo, Aristóteles parece também sustentar uma concepção fortemente intelectualista da acrasia. Esse paradoxo se cristaliza na figura de Sócrates. Nesse texto, eu gostaria de defender uma posição conciliadora: Aristóteles não adota nem uma nem outra dessas duas concepções antinômicas, mas, em conformidade com seu método habitual, ele tenta conciliá-las, corrigindo uma e outra. Contra a posição corrente, ele mostra que no momento do ato acrático, o acrático, como um homem bêbado ou adormecido, tem de fato um defeito de conhecimento. Eu tento mostrar que esse defeitoé uma falta de phantasia bouleutikê : o acrático não vê - ou não vê mais -- esse bolo aqui como não devendo ser comido, e, então, ele não tem vontade de resistir a ele. Mas contra a doutrina de Sócrates, Aristóteles considera que essa falta de conhecimento, ou de utilização do conhecimento prático, por meio da phantasia bouleutikê, é causada pela irrupção de um desejo irracional irresistível, e que esse desejo é ele mesmo causado por uma falta de formação do caráter.
Abstract
The conception and explanation that Aristotle proposes about the phenomenon of acrasia seems to be a real paradox. On one hand he seems to warrant common sense which sees this phenomenon as lack of self-control due to the weakness of the will. On the other hand, nevertheless, Aristotle seems also to sustain a strongly intellectualistic conception of acrasia. This paradox crystallizes with the figure of Socrates. In this text I would like to defend a conciliatory position: Aristotle does not assume either one of these two antinomics conceptions, but rather, in harmony with his habitual method, he tries to conciliate them, correcting both. Against the current position, he shows that at the moment of the acratic act, the acratic, as a drunk or sleepy man, has in fact a defect of knowledge. I try to show that this defect is a lack of phantasia bouleutikê : the acratic does not see -- or no longer sees -- this cake here as something that should not be eaten and, then, he has no will to resist to it. But against Socrates doctrine, Aristotle considers that this lack of knowledge, or of using practical knowledge, through the phantasia bouleutikê, is caused by the irruption of a irresistible irrational desire, and that this desire is itself caused by a fault in character forming.
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