A Experiência Religiosa e a Lógica Tópica da Autodeterminação do Presente Absoluto (Kitaro Nishida)
Resumo
A partir de um diálogo e confronto entre a filosofia ocidental e o pensamento que perpassa a tradição zen-budista, empreendidos por Kitaro Nishida fundador do que veio a se chamar de Escola de Kyoto, apresenta-se algumas teses centrais da sua obra conclusiva, que busca uma nova fundamentação conceitual da experiência religiosa, em que o motivo do esvaziamento de si torna-se raiz de um agir historicamente eficaz.. Após uma breve descrição do contexto de surgimento do projeto filosófico de Nishida e de sua autocompreensão (1), examina-se o fundamento da experiência religiosa enquanto fato anímico, baseado na consciência da autocontradição fundamental da nossa existência, que é o saber da própria morte. Para Nishida só uma "lógica tópica", mais abrangente que a lógica formal, denominada também de "lógica dialética", consegue articular a auto-identidade contraditória ("existir sendo nada") desse saber da nossa morte. (2) No contexto de uma crítica (metafísica) ao conceito metafísico de Deus da teologia natural (pontuada por uma confrontação com a dialética do finito e do infinito de Hegel) reconstrói-se a tese, de que o absoluto só é verdadeiramente absoluto enquanto autonegação ativa de si mesmo, graças à qual o relativo ou finito não é simplesmente aniquilado pelo seu face a face com o absoluto, mas ao mesmo tempo se relaciona a ele enquanto autonegação da sua auto-identidade finita. (3) A tese mais ousada e paradoxal é a que procura integrar os motivos zen-budistas do esquecimento e do esvaziamento de si como caminho do despertar para o si-mesmo verdadeiro com uma reflexão sobre a consciência histórica e um agir historicamente eficaz. Este só pode surgir de uma "cotidianidade radical" e sem-fundamento (que não é evasão do mundo ou quietude da indiferença), determinada conceitualmente na perspectiva do "instante eterno" de Kierkegaard como autodeterminação do presente absoluto. (4)
Abstract
Taking as its starting point a dialogue and comparison, undertook by Kitaro Nishida, the founder of so-called Kyoto School, between Western philosophy and the thinking which underlines Zen-Buddhist tradition, this paper discusses some of the central theses of his last work, which strives to provide new conceptual grounds for religious experience, in which the idea of self-emptying becomes the origin of historically effective action. 1. After briefly describing the context of the emergence of Nishida's philosophical project and its self-understanding the essay 2. examines the fundaments of religious experience as a fact of the soul, based in the consciousness of the fundamental self-contradiction of one´s experience, which is the knowledge of one´s own death. For Nishida, only a "topical logic", more encompassing that formal logic, also called "dialectical logic", manages to articulate the contradictory self-identity ("existing being nothing") of this knowledge of one´s death. 3. In the context of a (metaphysical) critique to the metaphysical concept of God in natural theology (marked by a comparison with the dialectics of the finite and the infinite in Hegel), the thesis is reconsidered, according to which the absolute can only be such as the active self-negation of itself, thanks to which the relative or finite is not simpy annihilated in its encounter with the absolute, but at the same time relates to it as self-negation of its finite self-identity. 4. The most daring and paradoxical thesis is the one that attempts to integrate Zen-Buddhist themes of forgetting and the emptying of the self as a way of the awakening for the true self with a reflection on historical consciousness and historically effective action. The latter can only come out of a ungrounded "radical everydayness" (which is not the evasion of the world or the quietude of indiference), conceptually determined from the perspective of Kierkegaard´s "eternal instant" as self-determination of absolute present.
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