Idéia adequada, holismo semântico e verdade como coerência em Espinosa
Palavras-chave:
Espinosa, idéia, adequação, verdade, coerência, holismo, Spinoza, idea, adequacy, truth, coherence, holism,Resumo
A noção de idéia adequada desempenha uma função essencial na teoria espinosista da verdade. Ela exprime as exigências causais da representação verdadeira, de tal maneira que as relações causais que uma idéia mantém com outras idéias sejam, de alguma forma, constitutivas de seu sentido e de sua verdade. Alguns comentadores interpretaram essa exigência causal como uma versão forte do princípio do holismo semântico, segundo o qual o conteúdo dos estados mentais -- no caso de Espinosa, o conteúdo das idéias -- seria determinado por sua relação com todas as outras idéias presentes na mente, de forma que o caráter relacional desses conteúdos conduziria à exclusão de "unidades de sentido invariáveis", ou ainda, de "enunciados atômicos" no sistema espinosista. Por outro lado, há toda uma tradição interpretativa para a qual a noção de idéia adequada constituiria uma versão da teoria da verdade como coerência, versão segundo a qual a verdade de um juízo dependeria de suas relações de implicação com a totalidade dos outros juízos verdadeiros que, juntos, constituiriam o único sistema dedutivo total, a saber, o que Espinosa denomina de intelecto infinito de Deus, ou ainda, idéia de Deus. Ora, certas idéias adequadas, como as noções comuns da razão e as idéias intuitivas dos atributos divinos, parecem constituir enunciados atômicos cujos conteúdos são invariáveis em todas as mentes e são capazes de fundar subsistemas coerentes completos que preservam sua autonomia no seio do único sistema dedutivo total. À luz dessa dificuldade, pretendo examinar, mediante a distinção entre a série infinita das causas finitas, transitivas e mutáveis, e a série finita das causas infinitas, imanentes e eternas, a especificidade da posição espinosista face ao princípio do holismo semântico e à concepção coerentista da verdade.
Abstract
The notion of adequate idea plays a central role in Spinoza's theory of truth. It expresses the causal requirements of true representation, in such a way that the causal relationships that one idea maintains with other ideas are, in some way, constitutive of its meaning and its truth. Some scholars understood this causal requirement as a commitment to a strong version of the principle of semantic holism, according to which the content of mental states -- in Spinoza's case, the content of ideas -- is determined by its relationships with all other ideas contained in the mind, so that the relational character of these contents would entail the exclusion of any "invariable units of meaning", or any "atomic statements" in Spinoza's system. On other hand, there is a long tradition of interpretation for which the notion of adequate idea is committed to a version of the coherence theory of truth, according to which the truth of a judgment depends on its relations of implication with all other true judgments that, together, constitutes the only total deductive system, namely, what Spinoza calls God's infinite intellect or God's idea. Nevertheless, certain adequate ideas, like the common notions of reason and the intuitive ideas of God's attributes seem to be atomic true statements whose contents are invariably present in every mind, and which are capable of grounding complete coherent subsystems of true ideas that preserve their autonomy in the midst of the only total deductive system. In the light of this difficulty, this article tries to elucidate -- through the distinction between the infinite series of finite, transitive and mutable causes, and the finite series of infinite, immanent and eternal causes -- the specificity of Spinoza's position concerning the principle of semantic holism and the coherence conception of truth.
Recebido em 07/2009
Aprovado em 11/2009
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