O labirinto infinito: Borges contra Leibniz

Autores/as

  • Pedro Alegre UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumen

No começo da indagação filosófica, o céu refletia a composição ordenada do
cosmos e, da Terra, o homem podia ocupar o centro do mundo sob a proteção estelar. O que ficou definido por Aristóteles e Ptolomeu iria, durante séculos, marcar o olhar do homem para o espaço e o mundo conhecido. Até o Renascimento, o conhecimento do homem, assim como seu mundo, poderia ser definido como uma região compacta, ainda que sofresse impactos sísmicos desde a Grécia antiga. Mesmo o céu, a certa altura da Idade Media tardia, pareceu pequeno e os becos das cidades cada vez mais estreitos; as palavras começariam a falhar -- intuindo problemas futuros. Como se o espelho das
estrelas fixas baixasse tal qual uma parede e sufocasse o homem, ele ficou sem saída. Por alguns momentos se sentiu esmagado. O antigo céu parecia lhe barrar a visão. Algo aconteceu na retina daquele cuja vida foi, desde sempre, olhar para o céu de estrelas. A bolha da cosmologia clássica estourou, porque o homem parecia diferente desde os tempos de Ptolomeu. O novus homo, ao olhar à noite para o céu, podia ver um vasto universo cuja extensão não caberia ao homem limitar. As navegações ocupavam a Terra por inteiro e, através da nova ciência, a alma humana exigiu um espaço muito maior, até o ponto de Giordano Bruno se perder na imensidão do céu infinito.

Publicado

2017-04-11

Número

Sección

Artigos