EXTENSÃO RURAL E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO PRODUTIVA DA AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL: (des)conexões entre referenciais, ideias e práticas

Autores

Palavras-chave:

Exclusão social. Desenvolvimento rural. Agentes extensionistas.

Resumo

O termo “inclusão produtiva” foi amplamente incorporado pelo Estado brasileiro no começo dos anos 2000. No entanto, isto se deu sem que os policymakers se preocupassem com a construção de uma definição precisa para o mesmo, o que levou à proliferação de diferentes interpretações e, em virtude disso, distorções na formulação, implementação, execução e avaliação das políticas públicas ditas de inclusão produtiva. A partir de um diálogo com a abordagem cognitiva de análise de políticas públicas (Muller, 2008), este artigo analisa se o referencial de inclusão produtiva que orienta as políticas para a agricultura familiar converge com as ideais e práticas desenvolvidas pelos extensionistas rurais que intermedeiam o acesso às mesmas. Os dados provêm de pesquisa documental e entrevistas com extensionistas do Estado do Tocantins realizadas entre maio e agosto de 2018. Os resultados demonstram que as políticas para a agricultura familiar são orientadas por diferentes referenciais de inclusão, o que força os mediadores a articulá-las e torná-las coerentes para o público beneficiário. No entanto, estes referenciais não coincidem com as ideias e práticas dos extensionistas envolvidos nos processos de tradução das políticas para os diferentes grupos de agricultores familiares, o que acentua as desconexões entre as intenções das políticas e seus efeitos.

Biografia do Autor

Diego Neves de Sousa, Embrapa Pesca e Aquicultura

Doutor em Desenvolvimento Rural (UFRGS). Analista da Embrapa Pesca e Aquicultura

Paulo André Niederle, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professor e atual Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Também é professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) na mesma universidade. Doutor em Ciências Sociais (CPDA/UFRRJ, 2011) com doutorado-sanduíche pelo CIRAD-Montpellier (UMR Innovation) / Universidade de Lyon II. Engenheiro Agrônomo (FAEM/UFPEL, 2005) e Mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS, 2007).

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Publicado

2021-10-17

Edição

Seção

Artigos