O fetiche da mercadoria em <em>Passageiro do fim do dia</em>, de Rubens Figueiredo
DOI:
https://doi.org/10.35520/flbc.2016.v8n15a17318Resumo
Passageiro do fim do dia é um romance perigoso. Narra trabalhos que causam cicatrizes; narra acidentes que causam cicatrizes; narra doenças que causam cicatrizes; narra conflitos que causam cicatrizes. Mas não são esses os perigos abordados neste ensaio, e sim aqueles inerentes à elaboração de uma obra desse tipo. São os perigos de um relato que versa sobre vidas situadas na mais extrema pobreza, designados pelo termo marxista lumpemproletariado: pessoas sem trabalho regular, sem consciência de classe. E quais são os perigos? O de descambar para o panfletário, com a retórica de veemência e pregação comum a textos compostos para denunciar e reparar injustiças. Ou o de descambar para o romance de tese, à guisa da estética naturalista e seus determinismos científicos. Ou o de descambar para a prosa banal, como se o conteúdo de vidas inexpressivas merecesse um enunciado sem apuro e impusesse o rebaixamento da expressão literária. A narrativa, entretanto, é conduzida com mão prevenida, de modo a conjurar os riscos. Há denúncia, mas sem a retórica da denúncia; há documento, mas sem os protocolos do documento. Parece mesmo que se tem ciência desses riscos.
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