O trauma da morte do autor em Ricardo Lísias

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35520/flbc.2021.v13n26a47553

Palavras-chave:

crise narrativa, morte do autor, Ricardo Lísias.

Resumo

Nos séculos XX e XXI, desfez-se a ideia de que a “boa consciência” de um narrador em terceira pessoa serviria como amenização das tensões nas incoerências narrativas. A ficção moderna voltou-se à indagação do próprio sentido de narrar, dado que a incoerência da própria realidade levaria à rejeição das convenções realistas, que enfatizam o caráter referencial da linguagem, sendo que a enunciação passa a tomar o centro da cena, diluindo as fronteiras entre narrativa e discurso. Essas colocações abrem diálogo com Roland Barthes (2004), para quem “é a linguagem que fala, não é o autor; escrever é [...] atingir aquele ponto em que só a linguagem atua, ‘performa’, e não ‘eu” (Barthes: 2004). O ato de narração, em Ricardo Lísias, parece encarar tal desafio levantando questões como as diferentes possibilidades da voz narrativa, bem como a intangibilidade do real. De uma forma ou de outra, as construções narrativas em Lísias parecem se empenhar ao redor das questões: como narrar o inenarrável? E como ser autor após a morte do autor? A resposta parece se reinventar e se renovar a cada novo instante, como se houvesse uma espécie de superação desse trauma e escrever fosse uma forma de cura pela palavra, algo particularmente notável nas experimentações com a voz narrativa que, por vezes, se aproxima tão intimamente de seus personagens que os absorve em suas cosmovisões e seus modos de falar, assim como, em outros momentos, chega a interagir com os personagens ou até mesmo desistir da história. Tendo isto em vista, Ricardo Lísias parece lidar, por meio da própria linguagem, com os empecilhos narrativos impostos aos séculos XX e XXI, ao experimentar formas e romper fronteiras com os seus procedimentos narrativos, buscando soluções para o problema do narrador e da ausência do autor.

Biografia do Autor

Julia Barbedo Ruivo, Universidade Federal de Ouro Preto

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Ouro Preto na linha de Memória e Linguagem Cultural (turma 2020). Graduanda em Licenciatura em Língua Portuguesa na Universidade Federal de Ouro Preto (desde 2019). Possui graduação em Letras - Bacharelado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Ouro Preto (2018).

Referências

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Publicado

2022-10-15

Edição

Seção

Ensaios