O teatro trágico da despersonalização pessoana

Autores

  • Antônio Máximo Ferraz

Resumo

A obra de Fernando Pessoa ainda está a demandar um entendimento mais consentâneo à profundidade das questões por ela suscitadas. A “teoria do fingimento”, consumada na poética da despersonalização, vai de encontro à tradição mimética, a qual costuma encarar a obra de arte como cópia de uma substância a ela anterior -- no caso da lírica, como cópia ou expressão da subjetividade. Sustentamos, entretanto, que as várias personae (máscaras) pessoanas constituem justamente uma superação desta tradição. As máscaras que tomam voz em sua obra -- aí compreendido o próprio ortônimo --, não expressam a suposta subjetividade do autor. Ao contrário, elas devem ser explicadas a partir do que é próprio da experiência teatral, isto é, o mostrar que se doa à contemplação (théa, théatron). As múltiplas máscaras apresentam-nos um questionamento poético-teatral sobre a finitude radical do homem e das coisas, o que aproxima este teatro da reflexão filosófica sobre o trágico. Através das diferentes posturas que cada máscara assume face à questão do nada e do não-ser, a obra pessoana realiza uma crítica contundente à tradição metafísica ocidental e à noção de subjetividade, e, por conseguinte, à própria modernidade. 

Downloads

Publicado

2019-03-10

Edição

Seção

Artigos