A importância de Yemanjá para o folclore das águas no Brasil, para a umbanda e para "Mar morto"
Resumo
Nesse trabalho apresentamos Yemanjá, entidade trazida da África por meio dos escravos e cujo culto se estendeu por todo o país através das religiões afro-brasileiras como a Umbanda, mormente onde os escravos abundaram e estabeleceram descendência. Utilizamo-nos aqui das ideias defendidas por teóricos como Barros (2006), Maroni (2008) e Câmara (2011), por citar alguns, para fundamentarmos o que presentemente analisamos. Em primeiro lugar, contextualizamos a importância de Yemanjá ao estabelecermos a ligação entre o mar (seu reino), o inconsciente e a mulher; em seguida, apresentamos brevemente o folclore das águas no Brasil e três entidades aquáticas femininas (Iara, Sereia Amazônica e Yemanjá). Com base nesse contexto, tratamos, a partir de então, especificamente de Yemanjá: sua origem africana, seu traslado para ao Brasil, sua ligação com a Umbanda e com o Catolicismo e, por último, sua representação no romance Mar Morto, de Jorge Amado. Concluímos que esse romance amadiano, marcado expressivamente pela presença de Yemanjá, é o único onde este orixá reina absoluto, dando-nos uma prova do quão devoto Jorge Amado foi dele, a ponto de permitir que Yemanjá marcasse um ponto de inflexão em sua carreira literária, ao quebrar paradigmas sexistas através de Mar Morto em plena Era Vargas, onde pouca abertura era concedida a literatas comunistas e revolucionários como ele.
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