“Buscando aquele outro decantado”: a manipulação pornográfica em O caderno rosa de Lori Lamby, de Hilda Hilst

Autores

  • Natália Marques da Silva Unemat
  • Walnice Aparecida Matos Vilalva Unemat
  • Samuel Lima da Silva Unemat

Resumo

Este artigo analisa O caderno rosa de Lori Lamby (1990), de Hilda Hilst, partindo do que entendemos como manipulação pornográfica de ordem narratorial. É esse o termo que parece definir o corpo narratológico e temático da escritora brasileira Hilda Hilst. É esse, também, nosso eixo movente e fio condutor para a averiguação dessa narrativa e, sobretudo, da compreensão da protagonista nesse jogo de manipulação da criação verbal-pornográfica que a personagem cria. Partindo de uma análise sistemática das estratégias que compõem a diegese hilstiana, percebemos que tal narrativa trata do corpo e do prazer infantil de forma subversiva, transcendendo, desta forma, os limites da palavra e, essencialmente, do estatuto da narração. Hilst se utilizou da irrupção pornográfica para demarcar as violações normais que atiçam as possibilidades do ser-escritora, desestruturando a expectativa do leitor. A manipulação pornográfica, portanto, será tratada como potência do excesso, aquilo que a autora desejava esgotar enquanto linguagem e de estraçalhar a sua própria medida.

Biografia do Autor

Natália Marques da Silva, Unemat

Doutoranda em Estudos literários pela Unemat

Walnice Aparecida Matos Vilalva, Unemat

Professora do PPG em Estudos literários da Unemat

Samuel Lima da Silva, Unemat

Doutor em Estudos literários pela Unemat

Referências

AZEVEDO FILHO, Deneval Siqueira de. Holocausto das fadas: a trilogia obscena e o

Carmelo bufólico de Hilda Hilst. São Paulo: Annablume, 2002.

BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance I: a estilística. Trad.: Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2015.

BARTHES, Roland. Sade, Fourier, Loyola. Trad.: Mário Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

BATAILLE, Georges. O erotismo. Trad.: Fernando Scheibe. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

_______. A experiência interior. Trad.: Fernando Scheibe. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

_______. A literatura e o mal. Trad.: Fernando Scheibe. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

BRANCO, Lúcia Castello. O que é erotismo. São Paulo: Brasiliense, 2004.

BORGES, Luciana. O erotismo como ruptura na ficção brasileira de autoria feminina: um estudo de Clarice Lispector, Hilda Hilst e Fernanda Young. Florianópolis: Editora Mulheres, 2013.

CARDIM, Leandro Neves. Corpo. São Paulo: Globo, 2009.

DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Vinhedo: Editora Horizonte, 2012.

DINIZ, Cristiano. Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2013.

DURIGAN, Jesus Antônio. Erotismo e literatura. São Paulo: Ática, 1985.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Trad.: Maria Thereza da Costa e J.A Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2017.

______. História da sexualidade II: o uso dos prazeres. Trad.: Maria Thereza da Costa e J.A Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2017.

______. História da sexualidade III: o cuidado de si. Trad.: Maria Thereza da Costa e J.S Guilhon Albiquerque. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2017.

______. A ordem do discurso. Trad.: Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 2014.

FOLGUEIRA, Laura; DESTRI, Luisa. Eu e não outra: a vida intensa de Hilda Hilst. São Paulo: Tordesilhas, 2018.

HILST, Hilda. O caderno rosa de Lori Lamby. São Paulo: Globo, 2005.

___________. Contos d’escárnio/textos grotescos. São Paulo: Globo, 2002.

___________. Cartas de um sedutor. São Paulo: Globo, 2002.

___________. Bufólicas. São Paulo: Globo, 2002.

HUNT, Lynn (org). A invenção da pornografia: obscenidade e as origens da modernidade. Trad.: Carlos Szlak. São Paulo: Hedra, 1999.

MAINGUENEAU, Dominique. O discurso pornográfico. Trad.: Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2010.

MATA, Anderson Luís Nunes da. O silêncio das crianças: representação da infância na narrativa brasileira contemporânea. Londrina: EDUEL, 2010.

MORAES, Eliane Robert. O corpo impossível. São Paulo: Iluminuras, 2002.

______. Inventário do abismo (Prefácio). In: SADE, M. Os 120 dias de Sodoma. São Paulo: Iluminuras, 2006.

______. Da medida estilhaçada. Cadernos de Literatura Brasileira, São Paulo, n.8. pp.114-126, Instituto Moreira Salles. 1999.

_______. Desbocada e Debochada: a língua erótica brasileira. In: Olympio. Belo Horizonte, n.1, maio de 2018, p.80-85.

______. Um olho sem rosto. In: BATAILLE, G. História do olho. São Paulo: Iluminuras,

_____. Topografia do risco: o erotismo literário no Brasil contemporâneo. Cadernos Pagu, n.31, 2008.

_____. A prosa degenerada. Folha de São Paulo, São Paulo, maio 2003.

______. et LAPEIZ, Sandra Maria. O que é pornografia. São Paulo: Brasiliense, 1985.

PÉCORA, Alcir (org.). Por que ler Hilda Hilst. São Paulo: Globo, 2010.

SILVA, Samuel Lima da; VILALVA, Walnice Aparecida Matos. Do caos do corpo ao íntimo desnudado: a estrutura do deboche no romance A casa dos budas ditosos, de João Ubaldo Ribeiro. (Artigo). Estudos De Literatura Brasileira Contemporânea, (volume 54), 2018. 455-471.

Downloads

Publicado

2021-08-24