A transexualidade em El lugar sin límites, de José Danoso

Resumo

A partir do final do século XX e início do século XXI, observa-se o aumento no interesse acadêmico a respeito da transexualidade (Miskolci, 2007). Isto se relaciona à produção de teóricos como Butler (2004) e Preciado (2014) e à atuação militante de transindivíduos, os quais se organizam coletivamente para pleitear direitos. Em sociedades tais quais a brasileira, por exemplo, sujeitos trans sofrem segregação, tendo difícil acesso a direitos básicos, tais quais saúde e educação (Moraes, 2016). A literatura, devido a seu vínculo com o real, possibilita um entendimento mais holístico da realidade e, graças ao elevado teor subjetivo do texto literário, pode-se, por meio dele, tratar de maneira sensível e humanizada de temáticas relevantes para a sociedade. Desse modo, esta proposta discute a transexualidade a partir de El lugar sin límites (1984) de José Donoso, pois acredita ser possível ler a personagem Manuela como mulher transexual. Considera-se que, além do potencial socialmente crítico da narrativa, analisar a maneira em que a transexualidade é retratada contribui a uma melhor compreensão da obra literária. Portanto, recorre-se a Bagagli (2018), Butler (2004) para dissertar sobre sistema de gênero e transgressão. A seguir, apresenta-se a obra El lugar sin límites, a medida em que se defende a relação da literatura com a realidade social, amparando-se em Perroné-Moisés (2006) e Candido(2004; 2006). Por fim, com base em Lanz (2014) e Pelúcio (2007) relaciona-se a transexualidade de Manuela às violências que ocorrem durante a narrativa, demonstrando como o literário se vincula ao real, uma vez que transexuais brasileiras também enfrentam a violência em seus cotidianos.