Poéticas de libertação: ideologia liberal e discursos abolicionistas em Castro Alves e Maria Firmina dos Reis

Autores

Resumo

Neste artigo, investigamos como o discurso pró-abolição da escravatura manifesta-se na poética de dois autores que adotaram o negro como principal temática da sua produção literária: Castro Alves e Maria Firmina dos Reis. Para isso, analisamos o poema “O Navio Negreiro: tragédia em alto mar” (1883), de Castro Alves, e o conto “A escrava” (1887), de Maria Firmina dos Reis, buscando reconstruir como esse discurso pró-abolicionista dos autores está plasmado à estrutura das narrativas, manifestando-se nas figurações da personagem negra e no forte tom de denúncia sobre suas condições. Para isso, consideramos os estudos sobre a personagem na literatura (FORSTER, 1949; REIS, 2015 apud OLIVEIRA e SEEGER, 2022) e os de Bosi (1992) e Schwarz (1970; 1987) sobre as ideologias que circulavam no pós-independência. Como primeiros resultados, compreendemos que ambas as obras respondem à última fase do projeto nacionalista romântico, utilizando a literatura como instrumento para a construção de uma nova nação desvinculada da economia escravagista, mais alinhada ao ideal burguês moderno, mas a partir de um olhar humanizado e integrador do negro.

Palavras-chave: Maria Firmina dos Reis. Castro Alves. Ideologia. Liberalismo. Abolição.

Biografia do Autor

Nadjara Thays Teixeira Martins, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Mestranda em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e especialista em Ensino de Literaturas. Graduou-se em comunicação social (2015) e em língua e literatura portuguesa (2022) pela mesma universidade. Tem experiência em comunicação corporativa, gestão de projetos, produção e revisão de texto e ensino de literatura. Como pesquisadora, contribui com os estudos de literatura infanto-juvenil, literatura fantástica e literatura de autoria feminina. Atualmente dedica-se à pesquisa sobre literatura norte-americana do século XX produzida após a Segunda Guerra Mundial.

Juliane Vargas Welter, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Possui graduação em Letras (Português e suas respectivas literaturas) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2007), mestrado em Letras Estudos Literários/Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2010) e doutorado em Letras Estudos Literários/Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2015). Membro do Grupo de Pesquisa Literatura Brasileira em Dinâmica Desigual e Combinada no Ocidente, já atuou como professora na Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio) e na Educação Superior. Atualmente, é professora adjunta no setor de Literatura Brasileira/DLET da UFRN/campus Natal. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura e sociedade, literaturas contemporâneas em língua portuguesa, literatura brasileira contemporânea, romance, memória, trauma, testemunho, ditadura militar, cultura brasileira.

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Publicado

2024-01-08