Da Oralidade à Escrita - Reflexões Antropológicas Sobre o Ato de Narrar
Resumo
Muito já se falou sobre as comunidades tradicionais da oralidade e a passagem destas para uma sociedade da escrita. Apesar de tamanha fortuna crítica sobre o assunto, abordado sob os mais variados ângulos, nos chamou a atenção a leitura específica do antropólogo inglês e africanista Jack Goody, no ensaio denominado “Da oralidade à escrita -- Reflexões antropológicas sobre o ato de narrar”, publicado na coletânea A cultura do romance, organizada por Franco Moretti1 . De acordo com ampla tradição teórica, existe uma cultura difundida de que a narração faz parte tanto do indivíduo quanto da coletividade a qual esse indivíduo pertence. Entretanto, Goody pretende desmontar a clássica tese de que o desaparecimento da cultura oral dá lugar a formas de escrita que culminarão no romance. O autor não considera a narração intrínseca ao humano, presente em todas as culturas, mas sim uma manifestação que decorre da escrita presente nos primórdios e, posteriormente culmina na era da impressão. Nosso objetivo, no presente trabalho, é contrapor a análise de Jack Goody a autores que pensaram a passagem da oralidade para a escrita levando em conta fatores político-sociais e que veem, nessas transformações, a derrocada das narrativas tradicionais e o fortalecimento do romance como forma escrita que não permite qualquer remissão à oralidade. Analisaremos especialmente o caso da Grécia, baseandonos ainda em estudos de renomados e reconhecidos helenistas, para reforçar nosso ponto de vista, o de que a cultura helênica, apesar de ter produzido epopeias com alto grau de complexidade, é essencialmente oral. Além disso, consideramos que a hipótese de Goody não possa se sustentar porque parte de experiências muito localizadas, realizadas pelo autor em regiões da África, como forma de fundamentar sua pesquisaReferências
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