O DELINQÜIR DO DELÍRIO: (Manoel de Barros e a poesia)

Autores

  • José Carlos Pinheiro Prioste

Resumo

Poesia no dizer barrosiano é voz. Se esta é no designar do dicionário o som em vibrações, e estas são a ação de brandir, que por sua vez significa mostrar uma arma de modo ameaçador e que se origina do radical germânico brand , tição e por extensão lâmina da espada, no entanto a vocação poética é um convite não ao bradar do tagarelar ou à intimação ao digladiar, mas ao vocativo, o dirigir a palavra a alguém. Vibrar, então, não se circunscreve ao lançar do dardejamento e sim o agitar rapidamente, sacudir, tremer, luzir, cintilar. Ao luzido de centelhas de sons resplandece o ser humano. A phoné que se irradia, que toca com os raios dos fonemas o cerne de outro ser, repercute como símbolo: sinal de reconhecimento entre as personas que acende no ato de cada elocução o ascender de fagulhas do iluminativo que se manifesta no palavrear como um re/velar, um des/vendar. Sílaba tanto é a ação de conceber como uma combinação. Se concepção é a ação de conter, então o encerrar sentidos em um feixe de sons que se com/binam caracteriza-se como uma marcação de sinais em uma união. Se o silabário ressoa como simbólico que ecoa o unívoco, no entanto, somente quando se separa do acordar sancionado possibilita-se ecoar o multívoco. Este é o fazer do poetar: semear, produzir acordes que destituam o inequívoco para que no comparecente da aparição do símbolo dissemine-se não a segurança mas a inquietação, o desassossego e a agitação a soar.

Referências

Livros de Manoel de Barros citados nos texto:

CUP -- Compêndio para uso dos pássaros

GA -- O guardador de águas

LI -- O livro das ignorãças

RAQC -- Retrato do artista quando coisa

Downloads

Edição

Seção

Artigos