Do cuidado amoroso: acontecências do pastoreio

Autores

  • Kátia Rose Rose Oliveira de Pinho UFRJ

Resumo

Caminhar diz sempre e a cada vez o movimento de uma experieÌ‚ncia. ExperieÌ‚ncia não enquanto busca de provas para fato consumado, mas como disposição a aquilo que surge do e no caminho e assim o faz ser possibilidade de revelação e desvelamento: aconteceÌ‚ncia. Ao se deixar ser colhido por este movimento, por este chamado provocador não seraÌ mais possiÌvel retroceder nem dissipar o sabor que tem encaminhar-se no caminho de uma caminhada. Os poemas escolhidos para epiÌgrafe dizem treÌ‚s momentos distintos e indicam que haÌ um percurso a seguir. Por certo, um percurso que brota aÌ€ medida que se percorre, sabendo antecipadamente que eÌ distaÌ‚ncia perdida toda volta sobre o passo dado, ainda que haja sempre pedras ao longo do caminho, necessaÌrias e imprescindiÌveis ateÌ. Trilhando a via que se interpõe entre poesia e pensamento, ousa-se nela permanecer a fim de experienciar a travessia da ponte que une poeta e pensador: a linguagem. Segundo Gadamer (2002:171), “a linguagem sempre se daÌ no diaÌlogo. A linguagem se realiza e encontra sua plenitude no vai e vem da fala, em que uma palavra leva aÌ€ outra. EÌ na linguagem que alimentamos em comum, a que encontramos juntos, que a linguagem desenvolve suas possibilidades”. EÌ, pois, o diaÌlogo condição sine qua non para se pensar as questões que eclodem a partir do dizer pensante e do dizer poeÌtico visto que ambos são, essencialmente, linguagem. O que se compreende, poreÌm, por diaÌlogo? Uma troca de informações ou interação entre indiviÌduos, esta eÌ a concepção trivial e cotidiana. Excedendo a cotidianidade, compreende-se diaÌlogo como presença do loÌgos (linguagem) manifesta no acontecer-apropriante da palavra do poeta e do pensador. Destarte, o dizer pensante de Martin Heidegger e o dizer poeÌtico de Fernando Pessoa pro-vocam, chamam aÌ€ celebração da linguagem enquanto presentação do loÌgos, com a cura necessaÌria aÌ€ escuta do que se oculta na palavra de ambos e revela-se no sileÌ‚ncio que as perpassa. Sabe-se o risco da ousadia, mas por que não tentar alçar voÌ‚o e mergulhar nestes dizeres pro-vocantes? Colher do mar o sabor do sal eÌ possibilidade de nutrir rebanhos. 

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Publicado

2007-09-30

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Seção

Artigos