NO TEMPO DO JECA TATU: REPRESENTAÇÃO DAS POPULAÇÕES RURAIS NO IMAGINÁRIO URBANO DO SÉCULO XX (1914-1980)

Autores

  • Fábio Sgroi
  • Ana Paula Koury

Palavras-chave:

Jeca Tatu, Monteiro Lobato, Mazzaropi, Cultura popular

Resumo

Este artigo apresenta e analisa a representação das populações rurais no imaginário da cultura urbana paulistana na primeira metade e em meados do século XX, por meio do personagem Jeca Tatu. O objetivo é mostrar as reinterpretações pelas quais o personagem passou e sua relação com as ideias de seu criador, Monteiro Lobato, e de seu mais famoso intérprete no cinema, Amácio Mazzaropi. O debate que o personagem provocou no meio intelectual e as questões referentes ao homem do campo frente ao desenvolvimento urbano-industrial que ele refletiu constituem um registro importante sobre idealizações e preconceitos tanto da elite paulistana quanto das camadas populares acerca das pessoas do campo. Para tanto, o trabalho realiza uma revisão bibliográfica que inclui uma crítica datada de 1921 feita a Monteiro Lobato por Cornélio Pires, um fragmento do artigo escrito por Afonso Schmidt sobre o Jeca publicado em 1948 na Revista Fundamentos e partes de uma entrevista de Amácio Mazzaropi concedida ao Jornal Movimento em 1976. A argumentação sustenta que o Jeca Tatu foi um arquétipo criado inicialmente como instrumento para convencer as elites sobre a necessidade de se abandonar as estruturas arcaicas da economia rural em prol do desenvolvimento industrial, mas que, com o tempo, foi reinterpretado como um símbolo de resistência da cultura do campo frente aos valores e costumes da cidade. Postula, também, que o Jeca constituiu-se enquanto objeto de interpretação da realidade urbana, firmando-se, entre os anos de 1914 e 1980, como alegoria de um país que sofreu uma dramática mudança estrutural.

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Publicado

01/09/2020