Cartografia performativa: proposta de metodologia qualitativa para as ciências humanas

Autores

Palavras-chave:

Cartografia performativa, Metodologia qualitativa, Enfoque processual-experiencial, Compromisso ético, Engajamento político.

Resumo

Este artigo propõe o uso do que chamamos de ‘cartografia performativa’ como método de pesquisa. De caráter qualitativo, processual, experiencial e interpretativo, “inteiramente voltado para uma experimentação ancorada no real” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 21), consiste na produção de textos acadêmicos que plasmem o modo como a/o pesquisador/a se vê atravessado/a pela experiência investigativa, vinculando a produção de conhecimento ao compromisso ético de articular discurso e ação, teoria e prática. Pode resultar útil não apenas em estudos de caso que envolvam imersão em territórios on/off-line, mas também no acompanhamento de percursos, na implicação da/o pesquisador/a em processos de geração de dados, na conexão de redes ou de mapas fluídos. Por supor a (re)construção contínua tanto da pesquisa como da/o pesquisador/a, qualificamos esse tipo de cartografia como performativa, o que nos permite, ademais, enfatizar o modo como a linguagem – seja oral escrita, imagética, audiovisual, cibernética etc. – empregada na confecção de nossas narrativas/trajetórias, dentro e fora da academia, é uma forma de agir no mundo social. Por fim, concluímos que tal abordagem metodológica pode ampliar o leque de opções disponíveis para empreender pesquisas de teor autoral nas ciências humanas, enfatizando o engajamento político e os processos subjetivos pelo/a pesquisador/a vivenciados.

Biografia do Autor

Claudia Graça, UFRJ Professora Doutora

Docente da área de Saúde Coletiva do Curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Clarissa Gonzalez, UFRJ

Pós-doutora em Linguística Aplicada Interdisciplinar pela UFRJ e doutora pela Universidad Complutense de Madrid

Referências

AUSTIN, John L. Quando Dizer é Fazer. Palavras e Ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990 [1962].

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BARROS, Laura.; KASTRUP, Vírginia. Cartografar é acompanhar processos. In: PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Vírginia; ESCÓSSIA, Liliana. (Orgs.). Pistas do Método da Cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009, p. 76- 91.

BORBA, Rodrigo. A linguagem importa? sobre performance, performatividade e peregrinações conceituais. Cadernos Pagu, n. 43, p. 441-474, jul./ dez. 2014.

CINTRA, Amanda; MESQUISTA, Laura; MATUMOTO, Sílvia; FORTUNA, Cinira. Cartografia nas pesquisas científicas: uma revisão integrativa. Fractal: Revista de Psicologia, v. 29, n. 1, p. 45-53, jan./abr. 2017.

DELEUZE, Gilles. Espinosa filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.

DERRIDA, Jacques. Assinatura Acontecimento Contexto. In: Margens da Filosofia. Campinas: Papirus, 1991 [1972], p. 349-373.

DIEZ TETAMANTI, Juan Manuel. Cartografía social: teoría y método. Estrategias para una eficaz transformación comunitaria. 1. ed. Buenos Aires: Biblos, 2018.

DIEZ TETAMANTI, Juan Manuel et al. Cartografia social: Investigación e intervención desde las ciências sociales. Comodoro Rivadavia: Universitária de la Patagonia, 2012.

ESPÍNDOLA, Hellem. S. Quem pode “dar um rolé” no shopping? – cartografias comunicáveis e performatividade das “falas do rolezinho”. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada Interdisciplinar) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em:

<http://poslaplicada.letras.ufrj.br/pt/2021/03/25/teses-de-2020-ate-2017/>

FABRÍCIO, Branca. Linguística Aplicada como espaço de “desaprendizagem”: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, Luiz Paulo (Org.). Por uma Linguística Aplicada INdisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006, p. 45-65.

FONSECA, Tânia Mara; KIRST, Patrícia (Orgs.). Cartografias e Devires: a Construção do Presente. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 9a. ed. Rio de Janeiro. Edições Graal, 1979.

AUTOR[A] 1

GOMES, Maria Paula; MERHY, Emerson (Orgs.). Pesquisadores IN-MUNDO: um estudo da produção do acesso e barreira em saúde mental. Porto Alegre: Rede UNIDA, 2014.

AUTOR[A] 2

GUATTARI, Félix. O inconsciente maquínico. Campinas: Papirus, 1988.

GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1986.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA [IBGE]. Noções básicas de cartografia. Departamento de Cartografia. Rio de Janeiro: IBGE, 1999.

MOITA LOPES, Luiz Paulo Português no Século XXI: cenário geopolítico e sociolinguístico. 1. ed. São Paulo: Parábola, 2013.

MELLO, Glenda.; FERREIRA, Juliana. As ordens de indexicalidade de gênero, de raça, e de nacionalidade em dois objetos de consumo em tempos de Copa do Mundo 2014. Revista Brasileira de linguística Aplicada, Belo Horizonte, v.17. n. 3, p. 405-426, 2017.

PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia.; ESCÓSSIA, Liliana. (Orgs.). Pistas do Método da Cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009.

PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia.; A cartografia como método de pesquisa-intervenção. In: PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana (Orgs.). Pistas do Método da Cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009.

PASSOS, Eduardo.; KASTRUP, Virgínia; TEDESCO, Sílvia. A experiência cartográfica e a abertura de novas pistas. In: PASSOS, Eduardo.; KASTRUP, Virgínia.; ESCÓSSIA, Liliana (Orgs.). Pistas do método da cartografia: a experiência da pesquisa e o plano comum. Vol. 2. Porto Alegre: Sulina, 2016.

PINTO, Joana. Conexões teóricas entre performatividade, corpo e identidade. D.E.L.T.A., v. 23, n. 1, p. 1-26, 2007.

ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006 [1989].

SCHIFFRIN, Deborah. Approaches to discourse. Cambridge: Blackwell, 1994.

SILVA, Daniel. O texto entre a entextualização e a etnografia: um programa jornalístico sobre belezas subalternas e suas múltiplas recontextualizações. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão/SC, v. 14, n. 1, p. 67-84, jan./abr. 2014.

Downloads

Publicado

07/31/2021