Destituição viral e legitimação maquínica: polarização e vírus na esfera política brasileira

Autores

  • Davis Moreira Alvim
  • Izabel Rizzi Mação

Resumo

Polarização política é uma expressão emblemática. Sobre ela pairam suspeitas de imoralidade e heresia, como se ao pronunciá-la, inadvertidamente, emergissem proximidades inaceitáveis entre os campos políticos da esquerda e da direita brasileiras. No artigo a seguir propõe-se levar tal expressão a sério. Não se trata de tomá-la como uma condição dada na sociedade brasileira, mas, antes, como um sintoma para o qual a investigação filosófica pode se voltar. A pergunta que nos colocamos é a seguinte: a quem interessa polarizar a política brasileira? Sugere-se que a resposta deva ser dada por um conjunto de forças, ou melhor, uma maquinação. Indica-se que a configuração polarizada é um sintoma específico da reorganização do maquinário político brasileiro e, para compreendê-la, propomos a abertura de dois conceitos: legitimação maquinopolar e destituição viral. A expressão legitimação maquinopolar busca traduzir uma configuração aparentemente dual da esfera política brasileira, que funcionaria sob a dinâmica de um firewall e de um antimalware. Nossa hipótese é que não se compreende a condição polarizada brasileira sem compreender o vírus que vem antes do firewall e, no mesmo sentido, o software maléfico anterior ao antimalware. Para tanto, cartografamos três emergências: as Jornadas de Junho de 2013, as ocupações secundaristas ocorridas entre 2015 e 2016 e a greve dos caminhoneiros em 2018, indicando que elas expressam, precisamente, forças virais às quais a polarização política reage.

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Publicado

2020-12-17

Edição

Seção

Rede Moitará