“Como negociar com quem não tem rosto?”: Máscara, subjetivação e uso político do passamontaña na América Latina
Resumo
Esse artigo trata de uma tentativa inicial de aproximar e comparar dois casos de mascaramento coletivo na América Latina: os engraxates de La Paz, Bolívia, e os guerrilheiros zapatistas de Chiapas, México. Esses dois grupos de indígenas só aparecem publicamente cobrindo o rosto com pasamontañas (balaclava). Essa semelhança icônica, apesar das evidentes diferenças, nos mobiliza a tentar tecer paralelos entre as duas práticas de anonimato. Provocados por cenas expostas nos documentários Um Lugar chamado Chiapas (1998) e Brillo (2011) e referenciando estudos anteriores, nós tentamos expor possíveis razões que mobilizam cada uso da máscara. A partir de uma interpretação sobre a diferenciação entre rosto e máscara e dialogando com o processo de subjetivação política tal qual elaborado por Jacques Rancière (2018), concluímos que o mascaramento coletivo deve ser entendido como uma performance que reivindica um reconhecimento injustamente negado ao mesmo tempo que produz um afastamento, uma desidentificação a um estereótipo já previamente estabelecido. Seja na selva lacondona, seja nas ruas pacenhas, é justamente a partir do gesto de tapar a cara que se reconfigura uma experiência sensível mais democrática e aberta àqueles “sem rosto”.