Guerra ontológica e verdades pragmáticas
Resumo
Estamos assistindo à escalada da guerra entre o realismo científico e os “relativistas culturais”. À primeira vista, parece que só existem duas posições em antagonismo. De um lado se situam os partidários de que existe um único mundo, uma realidade objetiva que independe das percepções dos sujeitos e que, portanto, deve ser o único critério para se distinguir o verdadeiro do falso. De outro estão perfilados os “multiculturalistas” que resistem a este postulado, criticando os “abusos da razão” e defendendo a coexistência de múltiplos mundos que, inclusive, podem ser incomensuráveis. Este artigo tenta vislumbrar uma saída para esse impasse: a noção de verdade pragmática, tal como ela é apresentada pelo antropólogo brasileiro Mauro de Almeida. A tese básica é que, frente a problemas concretos como o aquecimento global, por exemplo, é possível construir verdades locais no campo de interseção de ontologias muito distintas, pois toda ontologia diferencia nos seus termos o “verdadeiro” do “falso”. Deste modo se evita tanto o não-diálogo do multiculturalismo quanto as pretensões imperialistas dos cientistas-sacerdotes do realismo.