Os evangélicos brasileiros para além do conservadorismo político-partidário: um olhar a partir das periferias urbanas
Resumo
A entrada em cena da extrema direita no cenário político nacional a partir de 2018 lançou luz sobre um dos fenômenos sociais brasileiros mais importantes das últimas décadas: a impressionante expansão dos evangélicos na sociedade brasileira. Em razão da sustentação da candidatura e do governo de Jair Bolsonaro por alguns pastores e políticos evangélicos a partir da instrumentalização do discurso religioso e da mobilização, em modo conservador, de valores ligados à religião, à família, à pátria e à segurança, o evangelismo tornou-se sinônimo de extrema direita, de conservadorismo e até de fascismo. Este texto procura argumentar que se trata de uma luz que obscurece mais do que ilumina o fenômeno. Uma compreensão mais profunda do fenômeno evangélico brasileiro não passa pela observação e interpretação do que se passa no ponto mais visível e barulhento da emergência desse fenômeno - a sua manifestação político-partidária. Deve-se partir, argumenta-se, pela observação e interpretação do contexto social que permitiu e permite a impressionante multiplicação de igrejas e fiéis de um tipo específico de religiosidade evangélica, que representa uma das poucas “chances” oferecidas para milhões de brasileiros.