Metamorfoses 21.2

Dossiê: O legado de Lima Barreto

Lima Barreto (1881-1922) figura hoje como nome central no repertório da literatura brasileira do século XX. É preciso notar, no entanto, que sua obra foi objeto de um sistemático olvido, por parte do mundo das letras nacionais, nas décadas subsequentes à sua morte, e foi resgatada apenas a partir dos anos 1950, graças, principalmente, aos esforços de Francisco de Assis Barbosa, começando então a receber a devida atenção, por parte da crítica e do público. Barbosa foi não apenas o primeiro biógrafo do escritor, como também responsável pela republicação (e muitas vezes recolha de inéditos) de romances, crônicas, contos e diários de Lima Barreto, pavimentando um caminho que mais tarde seria percorrido por uma tradição de importantes intérpretes, como Nicolau Sevcenko, Antonio Arnoni Prado, Beatriz Resende, Carmem Negreiros e Lilia Moritz Schwarcz.

            O romance Clara dos Anjos é a narrativa derradeira de Lima Barreto, finalizado pouco antes da sua morte; curiosamente, é também o seu texto de mais longa gênese, tendo o escritor trabalhado nele ao longo de toda a vida, sem chegar, contudo, a vê-lo em letra impressa, uma vez que ele foi publicado pela primeira vez apenas entre 1923 e 1924, como folhetim. Inovador por alargar a espacialidade da ficção carioca, abarcando definitivamente os subúrbios, o romance caracteriza-se, ainda, por ser a única narrativa longa do autor que tem uma mulher como protagonista, além do fato de ser o único de seus romances dedicado a uma personalidade da sua esfera familiar – a mãe –, e não do seu círculo literário.

A revista Metamorfoses toma como ponto de partida esse centenário para celebrar o legado de Lima Barreto, com particular interesse nas possibilidades de reflexão sobre a pertinência de sua obra para o contexto contemporâneo. O dossiê acolherá, assim, artigos e resenhas que se debrucem sobre a obra barretiana, sua recepção crítica e seus diálogos com outros textos e repertórios. Algumas das possíveis abordagens temáticas são: raça e racismo; gênero e sexualidade; interseccionalidade de gênero e raça; espacialidades, cidade e subúrbio no Rio de Janeiro; positivismo, eugenia e outras correntes; usos do humor e da sátira; a política brasileira na Primeira República; contos e crônicas de Lima Barreto; diários, escritas de si e escritos da intimidade; saúde mental, psiquiatria, internações e estigmatizações; vida e sociabilidade literárias.

As normas para publicação encontram-se na página da revista, e a data limite para o envio de artigos é o dia 15 de fevereiro de 2024

            Recordamos que a revista Metamorfoses recebe, em fluxo contínuo, resenhas de livros (de livre escolha) publicados nos dois últimos anos.

Organização:

Marcelo Diego (UFRJ)

Gabriel Chagas (University of Miami)