A sobrevivência da kianda na literatura angolana

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35520/metamorfoses.2022.v19n1a54487

Palavras-chave:

kianda, Atlas de Mnemosine, Angola, sobrevivência

Resumo

O objetivo deste artigo é averiguar, em A casa velha das margens, de Arnaldo Santos e O desejo de Kianda, de Pepetela, a sobrevivência da kianda, como espírito antigo das águas da mitologia bantu e caluanda, inferindo o sentido da sua presença em ambos os livros da literatura angolana: se ela pode, enquanto estratégia narrativa, corresponder a um passado sobrevivente, pré-colonial, como é preconizado pela leitura que Georges Didi-Huberman faz da obra de Aby Warburg, a partir do Atlas de Mnemosine. Ou se – na impossibilidade de se encontrar, resgatar ou regressar a este tempo – pois todos os elementos culturais estão contaminados pelo colonialismo, como escreve Stuart Hall – somente nos resta a interpretação da presença daKianda,enquanto personagem nas duas obras literárias, inquirindo o objetivo dos autores em sua reconstrução. Se em Pepetela ela possui a força da natureza para reconquistar o seu espaço como a Angola que precisa de transformação, em Arnaldo Santos ela parece refletir a riqueza e a complexidade cultural do período a que corresponde, pois este romance ambientado no final do século XIX parece justamente traduzir um instante histórico de tomada de consciência e de resistência dos chamados “filhos do País” em face da dominação portuguesa.

Biografia do Autor

Adriano Guedes Carneiro, Universidade Federal Fluminense

Doutorando em Literatura Comparada, pela Universidade Federal Fluminense, em 2022. Mestre em Estudos Literários, na subárea de Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, pela Universidade Federal Fluminense, em 2021. Licenciado em Letras Português-Literatura pela Universidade Federal Fluminense, em 2017. Bolsista CAPES.

Referências

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Publicado

2023-04-09