A construção entre o vazio e a mentira: a propósito de Sem nome, de Helder Macedo

Abstract

Este ensaio procura explorar a intrincada relação que se estabelece, em Sem Nome, de Helder Macedo, entre o formato bildungsroman e a proposta ideológica do romance. O romance trata, simultaneamente, de uma relação dinâmica com o passado e de um movimento contínuo e irrefutável rumo a um futuro apenas insinuado, mas que é, na verdade, a força motriz da trama romanesca. Tomando como metáfora o funcionamento de um sistema segundo o estruturalismo, este ensaio analisa o sentido da ausência (comum ao passado e ao futuro), assim como o conceito da «casa vazia» de Deleuze. Por fim, reflete sobre o modo como a escrita e a repercussão de um texto ficcional - no caso, um relatório com posto de dados mentirosos produzido por Júlia, a personagem principal - podem se tornar, mesmo que aleatoriamente, caminhos eficazes para amadurecer e exorcizar fantasmas, sugerindo, afinal, que entre ficção e verdade os limites são mais tênues e menos dicotômicos do que o senso comum procura afirmar.