Os devaneios da intimidade em O Regresso de Júlia Mann a Paraty, de Teolinda Gersão
DOI:
https://doi.org/10.35520/metamorfoses.2022.v19n1a55851Palavras-chave:
O regresso de Júlia Mann a Paraty – Teolinda Gersão – Olhar e “lugar de memória” – Portas e janelas ficcionaisResumo
Situada na interface entre o real e o ficcional, a obra literária O Regresso de Júlia Mann a Paraty (Portugal, 2021 e Brasil, 2021), de autoria de uma das mais consagradas escritoras portuguesas contemporâneas, Teolinda Gersão, apresenta, em forma de um tríptico, um olhar caleidoscópico e poliédrico sobre três figuras-ícones – Freud, Thomas Mann e Júlia Mann. Aparentemente surpreendidas por um voyeur, em determinados instantâneos de suas vidas, plenos de devaneios de intimidade, as personagens serão “capturadas” e enquadradas, na representação narrativa, em partes autônomas ou painéis que se assemelham a “janelas” ou “portas” ficcionais. Tais elementos metonímicos, presentes no espaço ficcional, evidenciarão percepções relacionadas ao metafórico social e às luzes” e “sombras” inerentes a ele. As três personagens encontram-se situadas em um entrelugar e, ao ocuparem um “lugar de memória”, refletem sobre si mesmas e sobre as outras. Todas elas criarão uma ficção de si no sentido psicanalítico e, à proporção que desnudam a própria subjetividade, assinalam o trágico e preconceituoso contexto histórico e ideológico em que se situam, marcado pela barbárie e pelo não-reconhecimento da diferença inerente ao outro. Na Europa do nazi-fascismo, o leitor se deparará com a “partilha do sensível” e com a “fábula do olhar”, nas acepções de Jacques Rancière e Didi-Huberman, e aprenderá a ver, subtraindo o olhar a seu exercício habitual.Referências
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