Almada e a dança: gesto, forma e cor
Resumo
Tempo e movimento são ideias fundamentais para o pensamento de vanguarda, desde as últimas décadas do século XIX até as primeiras décadas do século XX, tendo esses princípios ocupado um lugar central no desenvolvimento científico e na criação artística desses anos de celebração do novo, da invenção e da transformação. Disso dão exemplo a busca impressionista pelo instante; a técnica do pontilhismo e seu dinamismo; a consciência simbolista da passagem do tempo; a poesia moderna e seu compromisso de captar em linguagem o ritmo da vida nas cidades; as séries de Muybridge, tanto experiências fotográficas como estudos da fisiologia do movimento; e, claro, o cinema. Neste trabalho, interessa-nos estudar um caso particular desse enlace: a dança e suas representações, entendidas como sintomas visuais da inscrição de tempo e movimento sobre o corpo, sobre a forma humana – tensionada ao limite da estabilidade, do reconhecimento, da identidade; desafiada em sua naturalidade, assinalada por uma cultura de ousadia e ruptura. Almada Negreiros soube perceber muito bem a importância da arte de dança para os movimentos de vanguarda, tendo mesmo composto um dos mais importantes manifestos do Futurismo Português tomando como mote os Ballets Russes, que chegavam a Lisboa. Sobretudo, porém, Almada deixou-nos corpos em dança em um número significativo de composições visuais e no poema “Mima Fatáxa”, obras que leremos à luz das reflexões sobre dança e escritura de Stéphane Mallarmé e Paul Valéry, e em comparação à pintura de Edgar Degas, com suas famosas bailarinas.
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