UM ENSAIO SOBRE A RECEPÇÃO DE ESPARTA NO MANGÁ HOKUTO NO KEN
DOI:
https://doi.org/10.26770/phoinix.v30n1a5Palavras-chave:
Recepção, Histórias em Quadrinhos, Hokuto no KenResumo
Este artigo é um ensaio[1] acerca da recepção da Esparta clássica através do mangá Hokuto no Ken (pt. Punho da Estrela do Norte; in. Fist of the North Star), da autoria de Buronson[2] e Tetsuo Hara. Assim, mobilizamos o referencial teórico de Charles Martindale, dialogando com as percepções de Lorna Hardwick e Anderson Vargas para sustentarmos a hipótese da recepção da cultura espartana, por meio das (re)leituras de Plutarco, e como esta foi utilizada em Hokuto no Ken, na década de 1980. Afinal, como destaca Supawan Supaneedis, os mangás e as animações japonesas desse período ressignificaram a cultura Ocidental para enaltecer os feitos e a população do Japão. Logo, a recepção de Esparta era uma forma de enfatizar que o protagonista de Hokuto no Ken detinha atributos físicos e éticos suficientes para suplantar a brutalidade do “país dos demônios” e o seu empenho por formar guerreiros sanguinários, nos moldes da miragem espartanadifundida por Plutarco.[1] Em conformidade a Durval Muniz Albuquerque Jr. (2019, p. 16) a escolha de elaborarmos um ensaio reside nas suas possibilidades interpretativas, isto é, partiremos do mangá Hokuto no Ken e de nosso conhecimento acerca de Esparta, para desenvolvermos uma percepção alternativa de como esta narrativa gráfica sequencial criou uma recepção da cultura espartana para atender aos interesses de seus autores. Daí, esclarecemos que a leitura de Hokuto no Ken nos levou a identificar traços das práticas culturais de Esparta que foram utilizadas em textos e mídias diversas no decorrer do tempo, embora o mangá em questão não mencione diretamente os espartanos.
[2] Este é o apelido de Yoshiyuki Okamura, cujo significado seria a transliteração da pronúncia japonesa de Bronson, por afirmarem que o roteirista era parecido com o ator Charles Bronson, sobretudo, pelo bigode. Como Hokuto no Ken é assinado por Buronson, manteremos esse nome ao nos referirmos a Okamura.
Métricas
Referências
Documentação
ARISTOTLE. Politics. Trans.: H. Rackham. Cambridge, MA: Harvard University Press 1944.
BURONSON; HARA, Tetsuo. Hokuto no Ken. Vol. 13. São Paulo: Editora JBC, 2022.
COOLEY, M. G. L. (Ed.). Sparta. LACTOR 21. London: The London Association of Classical Teachers, 2017.
EURIPIDES. Electra, Orestes, Iphigeneia in Taurica, Andromache, Cyclops. Trans.: A. Way. London: William Heinemann Ltd., 1929.
PLATO. Laws. Books 1-6. Trans.: R.G. Bury. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1967.
PLUTARCH. Lives. Vol. 1. Trans.: B. Perrin. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1967.
THUCYDIDES. History of the Peloponnesian War. Books 1-2. Trans.: C. F. Smith. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1929.
THUCYDIDES. History of the Peloponnesian War. Books 3-4. Trans.: C. F. Smith. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1930.
XENOPHON. Scripta Minora. Trans.: E.C. Marchant. Cambridge: Harvard University Press, 1989.
Referências bibliográficas
ALBUQUERQUE JR, D. M. O tecelão dos tempos: novos ensaios de teoria da História. São Paulo: Intermeios, 2019.
ASSUMPÇÃO, L. F. B. de. O cotidiano dos cidadãos lacedemônios: os habitus alimentares na Esparta clássica. In: BAKOS, M. M.; SILVEIRA, E. A. (Org.). vida, cotidiano e morte: estudos sobre o Oriente Antigo e a Idade Média. Porto Alegre; Letra & Vida, 2012, p. 52-58.
ASSUMPÇÃO, L. F. B. de. As relações de poder na pólis de Esparta através dos escritos do período clássico. In: CAMPOS, C. E. da C.; BIRRO, R. M. (Org.). Relações de poder: da Antiguidade ao Medievo. Vitória-ES: DLL/UFES, 2013, p. 83-112.
ASSUMPÇÃO, L. F. B. de. A HQ “Os 300 de Esparta” e o Ensino de História – Considerações, ideias e alternativas. In: BUENO, A.; CAMPOS, C. E. da C.; BORGES, A. (Org.). Ensino de História Antiga. Rio de Janeiro: Sobre Ontens/UFMS, 2020, p. 50-61.
ASSUMPÇÃO, L. F. B. de. Os elementos socráticos da Constituição dos Lacedemônios de Xenofonte. Calíope – Presença Clássica, n.41, v.1, p. 46-85, 2021.
BIRGALIAS, N. Helotage and Spartan Social Organization. In: POWELL, A.; HODKINSON, S. (Eds.). Sparta: Beyond the Mirage. Swansea: The Classical Press of Wales; Duckworth, 2002, p. 249-266.
CARVALHO, D. A educação está no gibi. São Paulo: Papirus Editora, 2006.
FORNIS, C. El mito de Esparta: Un itinerario por la cultura occidental. Madrid: Alianza editorial, 2019.
HARA, T. Tetsuo Hara On ‘Fist Of The North Star’ And His Enduring Love Of Manga. [Entrevista concedida a] Ollie Barder. Forbes, Jun. 17, 2021. Disponível em: < https://www.forbes.com/sites/olliebarder/2021/06/17/tetsuo-hara-on-fist-of-the-north-star-and-his-enduring-love-of-manga/?sh=8d6b89f5debd> Acessado em: 23 de junho de 2023.
HARDWICK, L. Reception Studies. Cambridge: Oxford University Press, 2003.
HARDWICK, L. Translating Myths, Translating Fictions. In: McCONNELL, J.; HALL, E. (Ed.). Ancient Greek Myth in World Fiction since 1989. London: Bloomsbury, 2016, p. 75-90.
HARTZHEIM, B. H. Training Grounds: Postwar Manga Magazines and Shueisha’s Weekly Shonen Jump. Reitaku Review, 21, p. 3-22, 2015.
HODKINSON, S. Introduction. In: POWELL, A.; HODKINSON, S. (Ed.). Sparta: Beyond the Mirage. Swansea: The Classical Press of Wales, 2002a, p. vii-xx.
HODKINSON, S. Five words that shook the world: Plutarch, Lykourgos 16 and appropriations of Spartan communal property ownership in Eighteencentury France. In: BIRGALIAS, N.; BURASELIS, K.; CARTLEDGE, P. (Ed.). The contribution of ancient Sparta to political thought and practice. Pyrgos: International Institute of Ancient Hellenic History, 2002, p.417-432.
KENNELL, N. M. The Gymnasium of Virtue: Education and Culture in Ancient Sparta. Chapel Hill; London: The University of North Carolina Press, 1995.
KERN, A. L. East Asian Comix: Intermingling Japanese Manga and Euro-American Comics. In: BRAMLETT, F.; COOK, R. T.; MESKIN, A. (Ed.). The Routledge Companion to Comics. Oxford: Routledge, 2017, p. 106-115.
LESSA, F. de S.; ASSUMPÇÃO, L. F. B. de. Discurso e representação sobre as espartanas no período clássico. Synthesis, 24 (2), p. 1-10, 2017. https://doi.org/10.24215/1851779Xe022
MAINGUENEAU, D. Intertextualidade. In: CHARAUDEAU, P.; MAINGUENEAU, D. Dicionário de Análise do Discurso. Coord. Trad. F. Komesu. São Paulo: Contexto, 2014, p. 288-289.
MALERBA, J. Notas à margem: teoria e crítica historiográfica. Serra-ES: Editora Milfontes, 2018.
MARTINDALE, C. Reception. In: KALLENDORF, C. W. (Ed.). A Companion to the Classical Tradition. Oxford: Blackwell, 2007, p. 297-311.
MARTINDALE, C. Reception – a new humanism?: Receptivity, pedagogy, the transhistorical. Classical Receptions Journal, v.5, n.2, p. 169-183, 2013.
RAMOS, P. A leitura de quadrinhos. São Paulo: Contexto, 2016.
SCHODT, F. L. Inside the Robot Kingdom: Japan, Mechatronics, and the Coming Robotopia. Tokyo; New York: Kodansha International Ltd., 1988.
SCHODT, F. L. Dreamland Japan: writings on modern manga. Berkeley: Stone Bridge Press, 1996.
SILVA, G. J. da. História Antiga e usos do passado: um estudo de apropriações da Antiguidade sob o regime de Vichy (1940-1944). São Paulo: Annablume; Fapesp, 2007.
SUPANEEDIS, S. Muscular Manga of the 1980's: The Creative Process Influenced by Western Art and Cultures. Theses (Master's degree in Art Theory), Silpakorn University, Painting Sculpture and Graphic Arts, Bangkok, Thailand, 2020.
WHITE, H. Meta-história: a imaginação histórica do século XIX. São Paulo: EDUSP, 2008.
VARGAS, A. Z. Charles Martindale: a recepção da Antiguidades e os estudos clássicos. In: SILVA, G. J. da; CARVALHO, A. G. (Org.). Como se escreve a História da Antiguidade: Olhares sobre o antigo. São Paulo: Editora Unifesp, 2021 (versão epub).
VERGUEIRO, W. Aspectos a considerar na redação de textos acadêmicos sobre histórias em quadrinhos. In: Pesquisa Acadêmica em Histórias em Quadrinhos. São Paulo: Criativo, 2017. p.113-159.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Luis Filipe Bantim de Assumpção
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Ao encaminhar textos à Revista Phoînix, o autor estará cedendo integralmente seus direitos patrimoniais da obra à publicação, permanecendo detentor de seus direitos morais (autoria e identificação na obra), conforme estabelece a legislação específica.
O trabalho publicado é considerado colaboração e, portanto, o autor não receberá qualquer remuneração para tal, bem como nada lhe será cobrado em troca para a publicação.
Os textos são de responsabilidade de seus autores. Citações e transcrições são permitidas mediante menção às fontes.
O uso dos textos publicados em nossa revista poderão ser distribuídos por outros meios, desde de que atribuídos devidamente à autoria e publicação. A revista está vinculada à licença CCBY-NC (atribuição não-comercial, conforme o Creative Commons).