O PROCESSO (2018) ENVOLTO EM IMAGENS E DISCURSOS DE VIOLÊNCIA: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE DAS NARRATIVAS E MEMÓRIAS A PARTIR DO DOCUMENTÁRIO DE MARIA AUGUSTA RAMOS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.61358/policromias.v6i2.44173

Palavras-chave:

Documentário. Gênero. Memória. Imagem. Discurso.

Resumo

: O documentário O processo (2018), de Maria Augusta Ramos, descreve os bastidores do impeachment de Dilma Rousseff em 2016. A ocasião foi marcada por discursos de ódio que atentaram contra a democracia e a ética (SAFATLE, 2017), sobretudo, nos ataques de gênero impelidos à governante na ocasião. Sua identidade feminina, continuamente exposta, tornou-se alvo de violentas narrativas. As mídias oficiais e alternativas – na profusão de informações veiculadas por imagens, textos, memes e áudios, tanto na internet, quanto em rádio, televisão, revistas e jornais impressos – imputaram-lhe diversos julgamentos. As questões sociais e políticas diluíram-se em meio a discursos contrários aos princípios democráticos que deveriam reger a nação. Valores relativos aos Direitos Humanos deram lugar a declarações de apreço a torturadores e a 1964. Dessa forma, a memória de autoritarismos (SELIGMANN-SILVA, 2017) mostrou-se potente e até positiva, no imaginário brasileiro. No esquecimento das torturas, reforçaram-se fissuras históricas relativas à formação nacional. Este estudo, por meio de análise da linguagem fílmica documentária (RAMOS, 2013), retoma discursos e imagens do período. Concomitante à destituição do cargo da presidência da República Federativa do Brasil, em 2016, deflagra-se um país imerso em preconceitos.

Biografia do Autor

MEIRE OLIVEIRA SILVA, Universidade de São Paulo

Doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).

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Publicado

2021-09-29

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Artigos