Sujeitos que recusam a vacina contra a Covid-19
práticas informacionais no contexto do telegram
DOI:
https://doi.org/10.47681/rca.v9i.65856Resumo
Entender as práticas informacionais dos participantes de grupos antivacina no Telegram a partir do contexto da pós-verdade, identificando os significados atribuídos à vacina e como esses significados são construídos, bem como os fatores que levam à não adesão à vacinação e a caracterização das principais autoridades cognitivas que legitimam a postura antivacina nesses grupos. Utilizando um método netnográfico observacional, a análise de conversas dos participantes em chats antivacina do Telegram foi realizada. O viés cognitivo presente na cultura da pós-verdade — a necessidade de reforçar suas convicções pré-existentes sobre a vacina — foi identificado como um fator intrínseco para a integração dos indivíduos nesses grupos. Nessas interações, os participantes demonstraram ações de negociação da informação, permeadas por fontes e referências de conteúdos desinformativos que circulam em grande quantidade nos grupos e canais em que estão inseridos. A análise das conversas a partir desses fatores revelou que as práticas informacionais desses indivíduos são produtos das interações entre fontes de informação e os significados atribuídos à vacina, que os próprios sujeitos produzem e moldam para reforçar suas crenças. Foram identificados quatro termos que permeiam esses significados (“experimento”, “veneno”, “vassassina” e “ser inoculado”) e que são negociados pelos participantes nos grupos a partir de fontes e referências que consideram confiáveis. Entre essas fontes, destacam-se as autoridades cognitivas, categorizadas em política, saúde, jornalismo, economia e esporte. Além das autoridades cognitivas, outros elementos, como o viés cognitivo e a maneira como negociam esses significados, foram entendidos como parte das práticas informacionais desses indivíduos, sendo essenciais para que se mantenham resistentes à vacinação dentro de suas bolhas informativas.
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