Signos indisciplinados: orientações escalares em competição na circulação de “Tchau querida”

Autores

Palavras-chave:

tchau querida, escalas, trajetória textual, performatividade.

Resumo

Os primeiros meses de 2016 foram de grande turbulência no cenário político brasileiro, devido principalmente à tramitação do processo de impeachment da ex-Presidenta Dilma Rousseff. Em 16 de março, foi divulgado o áudio de uma ligação telefônica entre Dilma e o ex-Presidente Lula, no fim da qual Lula se despede de Dilma dizendo “tchau, querida”. Mais tarde, em 17 de abril, a Câmara dos Deputados aprovou a abertura do processo de impeachment. Nessa sessão, diversas placas com os índices “Tchau Querida” em verde e amarelo foram erguidas por deputados e deputadas apoiadores do impeachment. Após algumas horas de votação, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) grita “Tchau querida” para o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que cospe em seu rosto. Diante desse cenário, este trabalho rastreia a trajetória textual percorrida pelos índices “Tchau Querida”, nos embates interacionais acima, tentando compreender como sua circulação constrói projeções escalares a cada recontextualização desses índices. Trabalhando com uma visão performativa e escalar de linguagem, a análise dos dados permite compreender que há orientações escalares em competição sobre gênero e sexualidade, bem como sobre democracia e justiça social.

Referências

AGHA, A. Semiosis across encounters. In: Journal of Linguistic Anthropology, vol. 15, n. 1, p. 1-5, 2005.

AHMED, S. The Cultural Politics of Emotion. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2004 [2014].

ASHWORTH, M. Affective governmentality: governing through disgust in Uganda. In: Social & Legal Studies, Vol. 26 (2), 2017.

BAUMAN, R; BRIGGS, C. Poética e performance como perspectivas críticas sobre a linguagem e a vida social. In: Ilha - Revista de Antropologia, v. 8 1-2, 1990/2006.

BLOMMAERT, Jan. Chronotopic identities. Disponível em https://www.academia.edu/19683565/Chronotopic_identities_On_the_timespace_organization_of_who_we_are, 2016.

BLOMMAERT, J.; WESTINAN, E.; LEPPANEN, S. Further notes on sociolinguistic scales. In: Working papers in urban language and literacies 123, 2014.

BOAVENTURA, J. Suburbanos e farofeiros em trânsito: entre a fricção e a (re)construção textual de subjetividades fora do lugar. Rio de Janeiro: UFRJ – Tese de Doutorado, 2018.

BORBA, R. Receita para se tornar um transexual verdadeiro: discurso, interação e (des)identificação no Processo Transexualizador. In: Trabalhos de Linguística Aplicada, 2016.

BRIGGS, C. Anthropology, interviewing, and communicability in contemporary social life. In: Current Anthropology 48, 2007.

______. Communicability, racial discourse, and disease. In: Annual Review of Anthropology, 2005, pp. 269-291.

BUTLER, J. Excitable Speech: A Politics of the Performative. New York: Routledge, 1997.

CARR, S. E.; LEMPERT, M. Introduction: Pragmatics of scale. In: CARR, S. E.; LEMPERT, M. (Eds.) Scale: discourse and dimensions of social life. Oakland: University of California Press, 2016.

CARR, S. E.; FISHER, B. Interscaling awe, de-escalating disaster. In: CARR, S. E.; LEMPERT, M. (Eds.) Scale: discourse and dimensions of social life. Oakland: University of California Press, 2016.

CARVALHO, L. Valsa Brasileira: do boom ao caos econômico. São Paulo: Todavia, 2018.

DERRIDA, J. Signature Event Context. Glyph, vol. 1, 1977.

FABRÍCIO, B. F. Transcontextos educacionais: gêneros, sexualidades e trajetórias de socialização na escola. In.: SILVA, D. N. et. al. (orgs.), Nova Pragmática: modos de fazer. São Paulo: Cortez, 2014, pp. 145-189.

FABRICIO, B.; BORBA, R. Remembering in order to forget: scaled memories of slavery in the linguistic landscape of Rio de Janeiro. No prelo.

LIMA, V. A direita e os meios de comunicação. In: CRUZ; KAYSEL; CODAS (Orgs.) Direita, volver! O retorno da direita e o ciclo político brasileiro. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2015, pp. 91-114.

MOITA LOPES, L. P.; FABRICIO, B.; GUIMARÃES, T. Scaling queer performativities of genders and sexualities in the periphery of Rio de Janeiro in digital and face-to-face semiotic encounters. In: S. Kroon & J. Swanenberg (eds.). Language and Culture on the Margins. Local/Global Interactions. London: Routledge, no prelo.

MOITA LOPES, L. P. Linguística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006

NGAI, S. Ugly Feelings. Harvard University Press, 2005.

PENNYCOOK, A. Performance and performativity. In: Global Englishes and Transcultural Flows. Nova York: Routledge, 2007.

SANQUE, D. “Pela família”: múltiplas indexicalidades de família na comunicação do impeachment de Dilma Rousseff. No prelo.

SOUZA, J. A radiografia do golpe: entenda como e por que você foi enganado. Rio de Janeiro: Leya, 2016.

VAN DIJK, T. How Globo media manipulated the impeachment of Brazilian President Dilma Rousseff. In: Discourse & Communication, 2017, pp. 1-31.

Downloads

Publicado

2020-11-18

Edição

Seção

Artigos