Ressignificações identitárias na experiência da doença: transgredindo a soturnidade do adoecimento
Palavras-chave:
identidades enfermas, ciência médica, performatividade, microinterações.Resumo
O objetivo deste trabalho é discutir os processos de construção discursiva das identidades doentes em eventos interacionais online. Este estudo enfoca as desestabilizações dos sentidos macrossociológicos do que é ser doente em nosso contexto ocidental contemporâneo em eventos interacionais localmente agenciados. Historicamente, a ciência médica vem se configurando como a autoridade-mor nos cuidados da saúde e no trato dos sofrimentos das identidades doentes, assim como, na diacronia, as subjetividades enfermas vêm sendo construídas associadas univocamente a performances de infortúnios. Analisam-se narrativas de uma participante artrítica de uma comunidade virtual e busca-se dar saliência às suas práticas discursivas que rompem com essas performances de sofrimento e que transgridem os imperativos da medicina científica ocidental. A categoria filosófica da performance é aqui adotada, uma vez que se assume a centralidade da linguagem na constituição de quem somos. Conclui-se que os contextos locais de interação podem nos apontar sentidos mais criativos acerca dos processos de subjetivação no adoecimento, enfatizando a importância de pesquisas que considerem as vozes de pessoas leigas no debate público sobre cuidados em saúde e a relevância de estudos sobre as microinterações para o vislumbre das transformações identitárias.
Referências
ABU-LUGHOD, L.; LUTZ, C. 1990. Language and the politics of emotion. New York: Cambridge University Press.
AUSTIN, J, L. 1990. Condições para performativos felizes. Quando dizer é fazer. Palavras e ação. Trad. Danilo Marcondes. Porto Alegre: Artes Médicas, 1962/1990. 29-37.
BECK, U. 1995. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva. In: GIDDENS, A.; BECK, U.; LASH, S. Modernidade Reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Editora da UNESP. 11-71.
BUTLER, J. 1990/2008. Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
COLLINS, J.; SLEMBROUK, S. 2007. Goffman & globalization: Participation frames and the spatial & temporal scaling of migration-connected multilingualism. Working Papers in urban Language & Literacies 46, disponível em www.kcl.ac.uk/ldc.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. 1980/2011. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia 2, vol. 2. São Paulo: Editora 34.
DERRIDA, J. 1977/1988. Limited Inc. Evanston, Illinois: Northwestern University Press.
FABRÍCIO, B. F. 2006. Linguística aplicada como espaço de “desaprendizagem”. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por Uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial. 45-65.
FOUCAULT, M. 1963/2011. O nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
_________. 1976/2005. História da sexualidade: a vontade de saber vol. I. Rio de Janeiro: Edições Graal
_________. 1979/2000. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal,.
GOFFMAN, E. 1981. Footing. Forms of talk. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press. 124-159.
MERHY, E. E.; FEUERWERKER, L. C. M.; CERQUEIRA, M. P. [s.d.]. Da repetição à diferença: construindo sentidos com o outro no mundo do cuidado. Disponível em http://www.eeaac.uff.br/professores/merhy/capitulos-21.pdf. Acessado em 03 de janeiro de 2014.
MOITA LOPES, L. P. (Org.). 2006. Por Uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial.
____________. 2008. Inglês e globalização em uma epistemologia da fronteira: Ideologia linguística para tempos híbridos. D.E.L.T.A., 24:2, (309-340).
____________. 2009a. A performance narrativa do jogador Ronaldo como fenômeno sexual em um jornal carioca: multimodalidade, posicionamento e iconicidade. Revista da ANPOLL, vol. 2, no. 27, 128-157.
___________ 2009b. Linguística aplicada como lugar de construir verdades contingentes: sexualidades, ética e política. Gragoatá, n. 27, 33-50.
___________. 2013. Gênero, sexualidade, raça em contextos de letramentos escolares. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Linguística Aplicada na Modernidade Recente: festschrift para Antonieta Celani. São Paulo: Parábola Editorial, 227-247.
NIETZSCHE, F. 1888/2008. Ecce Homo: como se chega a ser o que se é. Trad. Artur Morão. Covilha: Lusosofia Press.
OLIVEIRA, R. 2014. Perfomances discursivas de artríticos/as reumatoides nos domínios online: A (re-)definição das sociabilidades ditas doentes. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) – Programa de Pós-graduação em Interdisciplinar de Linguística Aplicada, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
ORTEGA, F.; ZORZANELLI, R. 2010. Corpo em evidência: a ciência e a redefinição do humano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira .
PENNYCOOK, A. 2006. Uma linguística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L. (Org.). Por Uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 67-84.
____________. 2007. Global Englishes and transcultural flows. Nova York: Routledge.
SONTAG, S. 1978/2007. Doença como metáfora. São Paulo: Companhia das Letras.
REZENDE, C. B.; COELHO, M. C. 2010. Antropologia das emoções. Rio de Janeiro: editora da Fundação Getúlio Vargas.
TESSER, C. D.; BARROS, N. F. 2008. Medicalização social e medicina alternativa e complementar: pluralização terapêutica do Sistema Único de Saúde. Rev. Saúde Pública, 42(5): 914-20.
THORNBORROW, J.; COATES, J. 2005. The sociolinguistics of narrative: identity, performance and culture. The sociolinguistics of narrative. Amsterdam: John Benjamins Publishing Co, 01-16.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).