Ressignificações identitárias na experiência da doença: transgredindo a soturnidade do adoecimento

Autores

Palavras-chave:

identidades enfermas, ciência médica, performatividade, microinterações.

Resumo

O objetivo deste trabalho é discutir os processos de construção discursiva das identidades doentes em eventos interacionais online. Este estudo enfoca as desestabilizações dos sentidos macrossociológicos do que é ser doente em nosso contexto ocidental contemporâneo em eventos interacionais localmente agenciados. Historicamente, a ciência médica vem se configurando como a autoridade-mor nos cuidados da saúde e no trato dos sofrimentos das identidades doentes, assim como, na diacronia, as subjetividades enfermas vêm sendo construídas associadas univocamente a performances de infortúnios. Analisam-se narrativas de uma participante artrítica de uma comunidade virtual e busca-se dar saliência às suas práticas discursivas que rompem com essas performances de sofrimento e que transgridem os imperativos da medicina científica ocidental. A categoria filosófica da performance é aqui adotada, uma vez que se assume a centralidade da linguagem na constituição de quem somos. Conclui-se que os contextos locais de interação podem nos apontar sentidos mais criativos acerca dos processos de subjetivação no adoecimento, enfatizando a importância de pesquisas que considerem as vozes de pessoas leigas no debate público sobre cuidados em saúde e a relevância de estudos sobre as microinterações para o vislumbre das transformações identitárias.

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Biografia do Autor

Raquel Souza de Oliveira, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Setor de Língua Inglesa, Colégio de Aplicação da UFRJ.

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Publicado

2020-11-18

Edição

Seção

Artigos