A construção dos significados do rolezinho na viagem de signos

Autores

Palavras-chave:

, rolezinho, entextualização, comunicabilidade.

Resumo

Este artigo propõe uma discussão sobre a viagem de signos e a construção semiótica da vida social, reflexão teórica baseada no fenômeno conhecido por rolezinho. Tais eventos criados pelo Facebook para acontecerem em shoppings de cidades brasileiras reuniram um grande número de de jovens (especialmente das periferias) para conversar, namorar, passear. No Rio de Janeiro, a rápida circulação de um dos convites virtuais para um rolezinho no shopping Leblon somou mais de seis mil confirmações em menos de dois dias, alarmando clientes e lojistas e gerando embates de sentidos que apontam principalmente para uma longa história de preconceitos, em especial de raça e de classe. Para observar a construção dos significados do rolezinho, estudo o conceito de entextualização (Bauman e Briggs, 1990), referente à propriedade de textos serem descontextualizados “tornando-se, consequentemente, disponíveis para serem ecoados, reciclados e recitados em ambientes semióticos diferentes” (Fabrício, 2014:150-1). Quanto à comunicabilidade, observo como certas ideologias viajam por meio de textos/discursos, segundo visões de mundo, crenças e regulações que são performadas nas cenas cotidianas. Em seguida, estudo outro modelo de circulação – o de cartografias comunicáveis, proposto pelo antropólogo Charles Briggs (2007), importante conceito para aprofundarmos o entendimento de como sujeitos constroem e fazem circular as noções que projetam sobre o rolezinho e seus participantes. Neste processo, analiso como certos mapas cartográficos são idealizados como possíveis enquanto outros são desqualificados contribuindo para a disseminação por contato do medo e do ódio e a consequente segregação dos espaços urbanos e perseguição a expressões culturais periféricas

Referências

BAUMAN, R., BRIGGS, C. 1990. Poetics and Performance as Critical Perspectives on Language and Social Life. In: Coupland, N.; Jaworski (eds.) The new Sociolinguistics Reader. New York: Palgrave Macmillan. 607-614.

BLOMMAERT, J. A messy new market place. 2010. In: The Sociolinguistics of globalization. Cambridge: Cambridge University Press.

_____. 2012. Chronicles of complexity. Ethnography, Superdiversity and Linguistic Landscapes. Tilburg Papers in Culture Studies. Paper 29.

BLOMMAERT, J., VARIS, P. 2015.Conviviality and collectives on social media: virality, memes and new social structures. Multilingual Margins, v.2, n.1. 31-45.

BORBA, R. 2014. A linguagem importa? Sobre performance, performatividade e peregrinações conceituais. Cadernos Pagu, n. 43. 441-474.

BRIGGS, C. 2005. Communicability, racial discourse, and disease. In: Annual Review of Anthropology 34:269-291.

_____. 2007. Anthropology, interviewing, and communicability in contemporary social life. In: Current Anthropology, v.48, n.4. 551-580.

_____. 2015. Rethinking Psychoanalysis, Poetics, Performance. Western Folklore 74 (3/4):245-274.

_____. 2016. Language and the communicability of received wisdoms: entrevista [junho, 2016]. Florianópolis: Revista da Anpoll no. 40, p. 192-203. Entrevista concedida a Daniel Silva.

BUTLER, J. 1997. Excitable Speech: a politics of the performative. New York: Routledge.

CALVINO, I. 1990. As cidades invisíveis. Tradução Diogo Mainardi. São Paulo: Companhia das Letras.

FABRÍCIO, B. F. 2013. A “outridade lusófona” em tempos de globalização: identidade cultural como potencial semiótico. In Moita Lopes, L.P. (org.) O português no século XXI: cenário geopolítico e sociolinguístico. São Paulo: Parábola.

_____. 2014. The pragmatics of entextualizing a digital ‘Lusophone’ territory. Working Papers in Urban Languages & Literacy. Paper 134.

FERRAZ, M.C.F. 2010. Homo Deletabilis: corpo, percepção, esquecimento do Século XIX ao XX. Rio de Janeiro: Garamond.

SCOLLON, R., SCOLLON, S. 2004. Nexus Analysis: Discourse and the Emerging Internet. New York: Routledge.

SILVA, D.N. 2010. Pragmática da Violência: o Nordeste na mídia brasileira. Tese. Campinas: UNICAMP.

_____. 2014. O texto entre a entextualização e a etnografia: um programa jornalístico sobre belezas subalternas e suas múltiplas recontextualizações. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 14, n. 1. 67-84.

Downloads

Publicado

2020-11-18

Edição

Seção

Artigos