Pesquisa qualitativa ou qualidade em pesquisa? Um exemplo de contribuição sócio-humanista em pesquisa contábil

Autores

  • Sandra Maria Cerqueira da Silva Universidade Estadual Feira Santana
  • Silvia Pereira de Castro Casa Nova Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.21446/scg_ufrj.v13i1.15860

Palavras-chave:

Pesquisa qualitativa, História oral, Corpo em organizações, Questões de gênero, Gestação e contabilidade

Resumo

Flick (2009) afirma que abordagens qualitativas de pesquisa têm vivido um período de crescimento e diversificação inéditos, tornando-se uma proposta de pesquisa consolidada e respeitada em diversas disciplinas e contextos. Um dos paradigmas de pesquisa alinhado com as abordagens qualitativas é o pós-estruturalismo, que entende a realidade como uma construção social e subjetiva, propondo uma desconstrução de textos entendidos como uma decomposição dos elementos da escrita, para descobrir as partes que estejam dissimuladas e que impeçam a alteração de condutas. Haynes (2010) aponta a história oral, apoiadas em entrevistas em profundidade, como uma excelente fonte para construção de evidências, sendo particularmente rica e poderosa para explorar a experiência daquelas que foram marginalizadas, silenciadas ou ignoradas no contexto contábil. Para reposicionar a relevância que abordagens qualitativas de pesquisa têm ganhado na contabilidade apresentaremos um exemplo de uma pesquisa desenvolvida a partir de histórias orais de acadêmicas brasileiras. A pesquisa em tela busca auxiliar na tarefa de identificar se existe alguma diferença na forma como as mulheres contabilistas exercem sua profissão e performam seu gênero diante da perspectiva da maternidade, analisando a relação entre o corpo, a autoimagem e os requisitos de apresentação para as mulheres profissionais de contabilidade. Haynes (2008) argumenta como o corpo se torna um veículo para a exibição de conformidade -- ou, na verdade, não-conformidade -- às normas sociais, o que afeta as práticas incorporadas, emoções e identidades. Para Lehman (2012), políticas econômicas e sociais estão intimamente atadas, portanto, a necessidade de modificar a condição da mulher -- e similarmente, de mudar as perspectivas sobre sua contribuição para a contabilidade, como o desenvolvimento de métodos que deem visibilidade, adotando novos conceitos que revelem aspectos que têm sido silenciados como conceitos de valor, valorização ou valoração do trabalho, risco e poder. [...]

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Publicado

2018-03-04

Edição

Seção

Ensino e Pesquisa