A sofisticação do neogolpismo: dos protestos de 2013 à destituição de Dilma Rousseff
Palavras-chave:
Neogolpes, Brasil, Impeachment, Dilma RousseffResumo
O presente trabalho tem como objetivo identificar até que ponto os modelos teóricos que discutem as distintas modalidades de golpe de Estado e, em especial, a literatura sobre neogolpismo na América Latina, são capazes de explicar a derrubada da ex-presidenta Dilma Rousseff (2016) e dos eventos que ocorreram em seguida, como a permanência de Michel Temer no poder (2016-2018). Nesse sentido, buscou-se cumprir três objetivos específicos. O primeiro deles é discutir o referido marco teórico, levando em conta que esse fenômeno resulta da interação dialética entre as instituições políticas formais e os protestos de rua. Assim, a segunda parte do artigo analisa a dimensão institucional da destituição da presidenta Dilma Rousseff e a terceira aborda as manifestações populares que concorreram para a sua saída do poder em 2016. Nossa conclusão é de que alguns aspectos particulares do processo de impeachment de Dilma Rousseff indicam que o modus operandi do neogolpismo recente na América Latina passou por transformações, mudanças essas que podem ser caracterizadas como um aprimoramento dessa estratégia de destituição. O principal aspecto dessa sofisticação remete à forma lenta pela qual se deu o neogolpe no Brasil, uma vez que a derrubada de Rousseff deita raízes em 2013.
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