DEVER DE FALAR VERSUS VONTADE DE CALAR: APONTAMENTOS SOBRE A OBRA DE SVETLANA ALEKSIÉVITCH E APROXIMAÇÕES COM A OBRA DE PRIMO LEVI
Abstract
Este artigo objetiva discutir alguns aspectos marcantes de dois livros da escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch: A guerra não tem rosto de mulher e As últimas testemunhas. Pretende-se demonstrar que, muito além da categoria “jornalismo literário”, essas duas obras também podem ser compreendidas como “literatura de testemunho”, na medida em que viabilizam, solidariamente, o testemunho indireto de múltiplas vozes até então silenciadas no debate público. A partir de larga exemplificação – com citações extraídas dos depoimentos encontrados nos dois livros –, propor-se-ão aproximações entre a literatura da bielorrussa e a canônica obra testemunhal de Primo Levi, sobretudo no que se refere ao exercício do testemunho de experiências coletivas traumáticas como compromisso ético e histórico de quantos se encontrem em condições de fazê-lo, enfatizando-se a tensão e o dualismo entre a vontade de esquecer e silenciar (“os que calam”) e o desejo de lembrar e testemunhar (“os que falam”).
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