Sobre a recepção canibal de uma tragédia perdida

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25187/codex.v8i2.38916

Palavras-chave:

Ésquilo, As Bacantes, Penteu, Dioniso, teatro decolonial

Resumo

São apresentados, neste artigo, alguns momentos de como se deu o processo de composição da tragédia Penteu, em três recortes narrativos: misto de vivências pessoais, de uma certa arqueologia filológica e do engajamento no teatro contemporâneo de viés antropofágico. Esta tragédia foi gestada em colaboração com o grupo extensionista “Teatro das Ideias Vivas”, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Penteu é uma recepção exuzíaca da tragédia homônima de Ésquilo, perdida. Desta tragédia, restou apenas um verso: μηδ' αἵματος πέμφιγα πρὸς πέδῳ βάλῃς [“Nenhuma gota de sangue caísse sobre o pé”], citado por Galeno. Analisamos o genoma literário desta gota e o alimentamos com questões contemporâneas até gerar um drama trágico em uma inquietante ritualística que mistura elementos da linguagem de Ésquilo e dos ritos sincréticos da cultura do Rio de Janeiro. Utilizamos uma informação preciosa, escrita por Aristófanes de Bizâncio, o gramático, na hipótese de As Bacantes. Ele disse que Eurípides copiou para a composição de sua última tragédia o enredo de Penteu, o drama escrito por Ésquilo em homenagem a Dioniso libertador.

Biografia do Autor

Fernando José De Santoro Moreira, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1998. Realizou um pós-doutorado em Filosofia na Universidade de Paris IV Sorbonne em 2000 e um estágio sênior na École Normale Supérieure e na Universidade de Paris IV em 2010-11. Foi professor visitante na École Normale Supérieure de Paris nos anos acadêmicos de 2010/11 e 2013. Secretário Geral da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos no biênio 2010/11. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro de 2012 a 2015. Diretor de Programa no Collège International de Philosophie (Paris) de 2013 a 2019.Professor Visitande na Oxford Brookes University de 2019 a 2020. Atualmente é Professor Associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Diretor do Laboratório OUSIA de Estudos em Filosofia Clássica e Editor Chefe do periódico Anais de Filosofia Clássica on-line. Publicou 39 artigos em periódicos especializados. Possui 43 capítulos de livros e 6 livros publicados e organizou 5 livros. Orientou 19 dissertações de mestrado e 15 teses de doutorado, supervisionou 3 pós-doutorados, além de ter orientado 24 trabalhos de iniciação científica e 29 trabalhos de conclusão de curso nas áreas de Filosofia e Letras. Atualmente coordena 3 projetos de pesquisa, lidera o Grupo de Pesquisa do Laboratório OUSIA de Estudos em Filosofia Clássica e integra o GdRI do CNRS "Philosopher en Langues. Comparatisme et traduction", o Labex do CNRS "Transfers" e o projeto Capes/Print "Dicionário dos Intraduzíveis". Atua na área de Filosofia, com ênfase em Filosofia Antiga e Estética. Em suas atividades profissionais interagiu com mais de 200 colaboradores em coautorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção científica e artístico-cultural são: Aristóteles, filosofia antiga, filosofia, linguagem, Platão, poética, ontologia, pré-socráticos e Parmênides.

Referências

APOLLONIOS DE RHODES. Argonautiques. Ed. F. Vian, trad. E. Delage, Paris: Les Belles Lettres (Coll. Guillaume Budé), 1976.

ARISTOPHANIS BYZANTII Grammatici Alexandrini fragmenta. 2a ed. Ed. Nauck, A. Halle: Lippert & Schmid, 1848, Reimpr. 1963.

ARISTOTE. La Poétique. Ed, tr., com. Dupont-Roc, R.; Lallot, J. Paris: Seuil, 1980.

ARISTÓTELES. Poética. Ed. e trad. E. Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

ARISTOTELIS. De Arte Poetica Liber. Ed. Kassel, Oxford: Clarendonian Press, 1965, 1982.

BERNAYS, J. Zwei Abhandlungen über die aristolische Theorie des Drama: I. Grundzüge der verlorenen Abhandlung des Aristoteles über Wirkung der Tragödie; II. Ergänzung zu Aristoteles’ Poetik. Berlin 1880 (Parte I pub. em Breslau 1857), Reed: Darmstadt 1968, trad. ingl. Aristotle on the effect of tragedy, Articles on Aristotle 4: Psychology and Aesthetics ed. J. Barnes, M. Schofield, R. Sorabji.

BUARQUE, F. & PONTES, P. Gota d’Água. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.

CARDILLO, L. L’estasi della Sibila. In: TOSCANO, F. (a cura di). Sibille. Palermo: Arianna Editrice, 2015.

CÉSAIRE, A. Une Tempête (d’après La Tempête de Shakespeare) (adaptation pour un théâtre nègre).Présence africaine, vol. 3,‎ 1968.

DE PAOLI, B. A adivinhação na tragédia de Ésquilo. 2015. 416 ff. Tese (Doutorado em Letras Clássicas) – Departamento de Letras Clássicas e Vernácula, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. DOI: 10.13140/RG.2.2.24381.26082

DE PAOLI, B. Ésquilo e a poética da adivinhação. O que nos faz pensar, v. 27, n. 43, 2018. DOI: https://doi.org/10.32334/oqnfp.2018n43a602.

DETIENNE, M. Dionysos mis à mort. Paris: Gallimard, 1977.

DOS SANTOS, I.; NASCIMENTO, M. & all. Intolerância religiosa no Brasil: relatório e balanço. 2a ed. bilíngue. Brasília: CEAP, 2018.

ÉSQUILO. Oresteia. Estudo e tradução de Jaa Torrano. 3 vol. São Paulo: Iluminuras, 2004.

ÉSQUILO. Tragédias: Os Persas, Os Sete contra Tebas, As Suplicantes, Prometeu Cadeeiro. Estudo e trad. de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2009.

EURIPIDE. Baccanti. Int., trad. e com. de D. Susanetti. Roma: Carocci ed., 2010.

EURÍPIDES. Teatro Completo. Tradução de Jaa Torrano. São Paulo: Ed. Iluminuras, vol 1: 2015; vol 2: 2016; vol 3: 2018.

FREUD, S. Das Unheimliche (1919). In: Gesammelte Werke. Chronologisch geordnet. Ed. Anna Freud. Vol. XII. Frankfurt am Main: Fischer Taschenbuch-Verlag, 1999, pp. 227–278.

FREUD, S. O estranho. In: FREUD, S. História de uma neurose infantil e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1972, pp. 274-314 (Obras completas vol. XVII).

HOMERO. Odisseia. Trad. Carlos Alberto Nunes. 5a ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

HOMERO. Odisseia. Trad. Trajano Vieira. 2a ed. São Paulo: Editora 34, 2012.

KERÉNYI, C. Dioniso. Trad. port. Ordep Serra. São Paulo: Odysseus, 2002.

MOTA, M. Vida de Ésquilo. Ronai: Revista de estudos clássicos e tradutórios, v. 6, n.2, 2018, pp. 52-62. DOI: https://doi.org/10.34019/2318-3446.2018.v6.23272

MOURA SILVA, C. Vidas Trágicas: Ésquilo, Sófocles e Eurípides no imaginário helenístico. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019. DOI: 10.13140/RG.2.2.23599.48808

NASCIMENTO, A. Teatro experimental do negro: trajetória e reflexões. Estudos Avançados, São Paulo, v. 18, n. 50, 2004, pp. 209-224. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142004000100019

OVÍDIO. Metamorfoses Trad. de D. Jardim Jr. Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint (Ediouro), 1983.

RADT, S. Tragicorum Graecorum fragmenta. Vol. 3: Aeschylus. Ed. Stefan Radt. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 2009.

SANTORO, F. O vinho trágico e secreto dos Curetas. Anais de Filosofia Clássica (Online), v. 26, 2019, pp.88-104. DOI: https://doi.org/10.47661/afcl.v13i26.35594

SANTORO, F. Intradução. In: CASSIN, B.; SANTORO, F.; BUARQUE, L. (orgs.) Dicionário dos Intraduzíveis: um vocabulário das filosofias. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.

SANTORO, F. Aristóteles e a Arte Poética. In: HADDOCK-LOBO, R. (org.) Os filósofos e a arte. Rio de Janeiro: Rocco, 2010, p. 43-57.

SANTORO, F. Filosofia da Decomposição. In: PUCHEU, A. Poesia (e) Filosofia. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998, p.104-118.

SEAFORD, R. Dionysos. London: Routledge, 2006.

SHAKESPEARE, W. The Complete Works. Ed. S. Wells & G.Taylor, Oxford: OUP, 2005.

RODRIGUES, N. Teatro Completo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

SOYINKA, W. The Bacchae of Euripides. London-New York: Norton & Company, 2004.

YEBRA, V. G. Poética de Aristóteles. Edição trilíngue. Madrid: Gredos, 1974.

Downloads

Publicado

2020-12-29

Como Citar

De Santoro Moreira, F. J. (2020). Sobre a recepção canibal de uma tragédia perdida. CODEX - Revista De Estudos Clássicos, 8(2), 92–138. https://doi.org/10.25187/codex.v8i2.38916

Edição

Seção

Artigos