Sobre a recepção canibal de uma tragédia perdida
DOI:
https://doi.org/10.25187/codex.v8i2.38916Palavras-chave:
Ésquilo, As Bacantes, Penteu, Dioniso, teatro decolonialResumo
São apresentados, neste artigo, alguns momentos de como se deu o processo de composição da tragédia Penteu, em três recortes narrativos: misto de vivências pessoais, de uma certa arqueologia filológica e do engajamento no teatro contemporâneo de viés antropofágico. Esta tragédia foi gestada em colaboração com o grupo extensionista “Teatro das Ideias Vivas”, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Penteu é uma recepção exuzíaca da tragédia homônima de Ésquilo, perdida. Desta tragédia, restou apenas um verso: μηδ' αἵματος πέμφιγα πρὸς πέδῳ βάλῃς [“Nenhuma gota de sangue caísse sobre o pé”], citado por Galeno. Analisamos o genoma literário desta gota e o alimentamos com questões contemporâneas até gerar um drama trágico em uma inquietante ritualística que mistura elementos da linguagem de Ésquilo e dos ritos sincréticos da cultura do Rio de Janeiro. Utilizamos uma informação preciosa, escrita por Aristófanes de Bizâncio, o gramático, na hipótese de As Bacantes. Ele disse que Eurípides copiou para a composição de sua última tragédia o enredo de Penteu, o drama escrito por Ésquilo em homenagem a Dioniso libertador.
Referências
APOLLONIOS DE RHODES. Argonautiques. Ed. F. Vian, trad. E. Delage, Paris: Les Belles Lettres (Coll. Guillaume Budé), 1976.
ARISTOPHANIS BYZANTII Grammatici Alexandrini fragmenta. 2a ed. Ed. Nauck, A. Halle: Lippert & Schmid, 1848, Reimpr. 1963.
ARISTOTE. La Poétique. Ed, tr., com. Dupont-Roc, R.; Lallot, J. Paris: Seuil, 1980.
ARISTÓTELES. Poética. Ed. e trad. E. Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
ARISTOTELIS. De Arte Poetica Liber. Ed. Kassel, Oxford: Clarendonian Press, 1965, 1982.
BERNAYS, J. Zwei Abhandlungen über die aristolische Theorie des Drama: I. Grundzüge der verlorenen Abhandlung des Aristoteles über Wirkung der Tragödie; II. Ergänzung zu Aristoteles’ Poetik. Berlin 1880 (Parte I pub. em Breslau 1857), Reed: Darmstadt 1968, trad. ingl. Aristotle on the effect of tragedy, Articles on Aristotle 4: Psychology and Aesthetics ed. J. Barnes, M. Schofield, R. Sorabji.
BUARQUE, F. & PONTES, P. Gota d’Água. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.
CARDILLO, L. L’estasi della Sibila. In: TOSCANO, F. (a cura di). Sibille. Palermo: Arianna Editrice, 2015.
CÉSAIRE, A. Une Tempête (d’après La Tempête de Shakespeare) (adaptation pour un théâtre nègre).Présence africaine, vol. 3, 1968.
DE PAOLI, B. A adivinhação na tragédia de Ésquilo. 2015. 416 ff. Tese (Doutorado em Letras Clássicas) – Departamento de Letras Clássicas e Vernácula, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. DOI: 10.13140/RG.2.2.24381.26082
DE PAOLI, B. Ésquilo e a poética da adivinhação. O que nos faz pensar, v. 27, n. 43, 2018. DOI: https://doi.org/10.32334/oqnfp.2018n43a602.
DETIENNE, M. Dionysos mis à mort. Paris: Gallimard, 1977.
DOS SANTOS, I.; NASCIMENTO, M. & all. Intolerância religiosa no Brasil: relatório e balanço. 2a ed. bilíngue. Brasília: CEAP, 2018.
ÉSQUILO. Oresteia. Estudo e tradução de Jaa Torrano. 3 vol. São Paulo: Iluminuras, 2004.
ÉSQUILO. Tragédias: Os Persas, Os Sete contra Tebas, As Suplicantes, Prometeu Cadeeiro. Estudo e trad. de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2009.
EURIPIDE. Baccanti. Int., trad. e com. de D. Susanetti. Roma: Carocci ed., 2010.
EURÍPIDES. Teatro Completo. Tradução de Jaa Torrano. São Paulo: Ed. Iluminuras, vol 1: 2015; vol 2: 2016; vol 3: 2018.
FREUD, S. Das Unheimliche (1919). In: Gesammelte Werke. Chronologisch geordnet. Ed. Anna Freud. Vol. XII. Frankfurt am Main: Fischer Taschenbuch-Verlag, 1999, pp. 227–278.
FREUD, S. O estranho. In: FREUD, S. História de uma neurose infantil e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1972, pp. 274-314 (Obras completas vol. XVII).
HOMERO. Odisseia. Trad. Carlos Alberto Nunes. 5a ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
HOMERO. Odisseia. Trad. Trajano Vieira. 2a ed. São Paulo: Editora 34, 2012.
KERÉNYI, C. Dioniso. Trad. port. Ordep Serra. São Paulo: Odysseus, 2002.
MOTA, M. Vida de Ésquilo. Ronai: Revista de estudos clássicos e tradutórios, v. 6, n.2, 2018, pp. 52-62. DOI: https://doi.org/10.34019/2318-3446.2018.v6.23272
MOURA SILVA, C. Vidas Trágicas: Ésquilo, Sófocles e Eurípides no imaginário helenístico. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019. DOI: 10.13140/RG.2.2.23599.48808
NASCIMENTO, A. Teatro experimental do negro: trajetória e reflexões. Estudos Avançados, São Paulo, v. 18, n. 50, 2004, pp. 209-224. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142004000100019
OVÍDIO. Metamorfoses Trad. de D. Jardim Jr. Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint (Ediouro), 1983.
RADT, S. Tragicorum Graecorum fragmenta. Vol. 3: Aeschylus. Ed. Stefan Radt. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 2009.
SANTORO, F. O vinho trágico e secreto dos Curetas. Anais de Filosofia Clássica (Online), v. 26, 2019, pp.88-104. DOI: https://doi.org/10.47661/afcl.v13i26.35594
SANTORO, F. Intradução. In: CASSIN, B.; SANTORO, F.; BUARQUE, L. (orgs.) Dicionário dos Intraduzíveis: um vocabulário das filosofias. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.
SANTORO, F. Aristóteles e a Arte Poética. In: HADDOCK-LOBO, R. (org.) Os filósofos e a arte. Rio de Janeiro: Rocco, 2010, p. 43-57.
SANTORO, F. Filosofia da Decomposição. In: PUCHEU, A. Poesia (e) Filosofia. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998, p.104-118.
SEAFORD, R. Dionysos. London: Routledge, 2006.
SHAKESPEARE, W. The Complete Works. Ed. S. Wells & G.Taylor, Oxford: OUP, 2005.
RODRIGUES, N. Teatro Completo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
SOYINKA, W. The Bacchae of Euripides. London-New York: Norton & Company, 2004.
YEBRA, V. G. Poética de Aristóteles. Edição trilíngue. Madrid: Gredos, 1974.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
A Codex - Revista de Estudos Clássicos utiliza uma licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.
Os autores dos trabalhos aprovados autorizam a revista a, após a publicação, ceder seu conteúdo para reprodução em indexadores de conteúdo, bibliotecas virtuais e similares.
A revista se permite o uso dos trabalhos publicados para fins não comerciais, incluindo o direito de enviar o trabalho para bases de dados de acesso público.