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2020-01-20

Traçar limites territoriais nos mapas ou demarcá-los no terreno são atos inescapavelmente intencionais e arbitrários, sendo os limites políticos interestatais o exemplo mais notório. Uma vez traçados, estes moldam corações e mentes a ponto de tornar reconhecíveis os territórios pela mera observação de suas linhas de contorno.

Como se ganhassem vida própria, os limites abstratos entre os Estados são parte constitutiva das práticas e representações das pessoas, grupos sociais e instituições que, de um lado e do outro, habitam suas adjacências. Se os limites provocam, desafiam, constrangem e condicionam o movimento das populações, estas não respondem passivamente aos efeitos desses limites, mas constroem as diferentes maneiras de habitar uma fronteira. Nesse sentido, "fazer a fronteira" ganha um significado especial, que não é o de eventualmente delimitar ou demarcar os territórios nacionais, mas o de constituir e viabilizar o espaço transitivo entre dois domínios distintos. Nesse sentido, com o lançamento do dossiê “Fazer a Fronteira”, a Revista Espaço Aberto do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRJ enseja enriquecer esse debate ao propiciar a reunião de trabalhos que reflitam sobre atos, significados e dinâmicas fronteiriças transnacionais.

O termo "fazer a fronteira" coloca aqui em evidência, por um lado, o aspecto de fabricação dos limites e fronteiras internacionais, que longe de serem estabelecidos de uma vez por todas, necessitam ser atualizados, reafirmados e modificados para que os limites territoriais continuem funcionando como um dispositivo eficiente de separação. Por outro lado, chama a atenção que essa construção não é unívoca, mas sim ativada por uma diversidade de atores que habitam a fronteira e produzem as possibilidades tanto de habitá-la quanto de atravessá-la.

Nas duas últimas décadas, a América do Sul produziu histórias diversas sobre as maneiras de se "fazer a fronteira". Movimentos em direção a projetos de integração regional ocorreram simultaneamente a processos de escalada de conflitos e reforço da segurança fronteiriça. Mesmo o viés integracionista muitas vezes considerou negociações diplomáticas e fluxos transnacionais sem muito considerar a potencialidade das interações transfronteiriças locais. Ao mesmo tempo, as novas modalidades de segurança fronteiriça trouxeram à tona a cooperação binacional e regional como estratégia de proteção dos Estados nacionais.

Diante desses desafios que escapam às interpretações e soluções mais óbvias, "fazer a fronteira" prossegue como uma questão fundamental para a compreensão das dinâmicas sócio espaciais que emergem a partir das margens e muitas vezes antecipam tendências que se verificam no conjunto do território e em seus centros.

Convidamos pesquisadores a enviarem artigos para o dossiê temático Fazer a Fronteira até 15 de março de 2020. Os artigos selecionados e aprovados na avaliação cega por pares serão publicados na edição de 2020.1. Os autores devem atender às normas de formatação e de submissão de seus trabalhos cujas instruções estão disponíveis no sítio eletrônico da revista informado abaixo.

Além do dossiê, informamos que a revista segue recebendo artigos em fluxo contínuo dentro da sua perspectiva plural de temas e abordagens, conforme pode ser observado na própria página da Revista. A edição de publicação de artigos do fluxo contínuo segue a ordem das datas de submissão e de aprovação final de cada artigo. São aceitas submissões de trabalhos em português, espanhol ou inglês em ambos os casos, dossiê e fluxo contínuo.

As normas para submissão de trabalhos encontram-se disponíveis na página da revista na internet.