MAPUTO E RIO DE JANEIRO DO OITOCENTOS: A EDUCAÇÃO DOS INFAMES

Autores

Resumo

O objetivo deste artigo está em apresentar algumas considerações a respeito das formas educacionais aplicadas nas cidades do Rio de Janeiro e Maputo, durante o século XIX. O aporte teórico-metodológico está imbricado com as noções de disciplina propostas por Michel Foucault (2008). A noção de educação, portanto,  não está vinculada a nenhuma estrutura forma de educação. Antes, porém, está sendo tratada como um dispositivo de poder e saber que visa constituir comportamentos ditos desejáveis a milhares de pessoas consideradas “vadias” e/ou “indígenas”. A partir das fontes consultadas, analisamos as práticas discursivas que intentaram promover formas de comportamentos desejáveis e, por conseguinte, a inclusão de milhares de pessoas no mundo da periculosidade. O trabalho está dividido em três momentos. No primeiro procura-se entender como, a partir de discursos jurídico-judiciários, as pesssoas pobres eram consideradas espectros da periculosidade. Em seguida, o termo “prevenção” foi muito utilizado por esses discursos a fim de manter sob controle os indesejáveis. Por fim, optamos por apresentar algumas discussões que foram apresentadas a fim de reeducar esses infames. 

Biografia do Autor

Octavio Jose Zimbico, Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Educação Maputo - Moçambique

Doutor em Educacao pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2016)

Mestre em Educacao pela Universidade Eduardo Mondlane (2012)

Graduado em Educacao pela Universidade Pedagogica (2005).

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2017-12-28

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Artigos