DOS LOBO AOS CARNEIRO: CONTINUIDADE DE ASPECTOS DA MOBILIDADE SOCIAL DE FAMÍLIAS TARDO-MEDIEVAIS DE PORTUGAL NO PERÍODO COLONIAL DO BRASIL

Autores

Resumo

O presente artigo analisa por meio da comparação de duas famílias, os Lobo e os Carneiro, as estratégias sociais utilizadas por famílias para alcançar ascensão social em cronologias e espaços distintos. Tal análise busca elucidar, sobretudo, que muitas das estratégias de acumulação e de maximização de recursos materiais e de capital simbólico utilizadas por famílias da América portuguesa remontam à Idade Média. Para tanto, desconstruir-se-á a ideia de uma mobilidade social inalcançável, apontando, principalmente, que a promoção social era possível desde o medievo. Tal estudo comparativo lança elementos norteadores para a compreensão da formação do estatuto da nobreza ultramarina. Essa pesquisa, a qual se insere no campo da História social da família, utilizou o cruzamento de fontes de diversas naturezas, existentes, sobretudo, no Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) e no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT).

Biografia do Autor

Ana Lunara da Silva Morais

Licenciada (2014) e bacharel (2011) em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestre em História e Espaço pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2014). Doutora pelo Programa Interuniversitário de Doutoramento em História (PIUDHist), vinculado ao Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDEHUS) da Universidade de Évora (2021). Atualmente faz Pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGH-UFRN). Membro do grupo de pesquisa do CNPq Laboratório de Experimentação em História Social (LEHS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Colaboradora da Plataforma SILB (Sesmarias do Império Luso-brasileiro), UFRN, base de dados sobre as sesmarias concedidas pela Coroa portuguesa no mundo Atlântico. Acerca da História do Brasil Colônia, possui interesse nos seguintes temas: atividade pesqueira; história das mulheres; reprodução social; prosopografia; família; patrimônio; conflitos pela posse de bens.

André Madruga Coelho

Atualmente é bolsista de doutorado no Programa Interuniversitário de Doutoramento em História: mudança e continuidade num mundo global (PIUDHist), com o projeto O processo de senhorialização do sul de Portugal no século XV. O caso do Alentejo (referência PD/BD/113903/2015). Mestre em História do Mediterrâneo Islâmico e Medieval (2015), curso ministrado pela Universidade de Évora e Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com a dissertação As elites urbanas medievais. O exemplo de Évora e dos Lobo (sécs. XIII-XV), e licenciado em História e Arqueologia pela Universidade de Évora (2011). É membro integrado não-doutorado do Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora (CIDEHUS-UÉ) desde 2015, onde colabora de momento no projeto Évora 3D, parceria entre a Câmara Municipal de Évora e a Universidade de Évora. Foi bolseiro de investigação no CEHR-UCP no projeto DEGRUPE – A dimensão europeia de um grupo de poder: o clero na construção política das monarquias peninsulares (sécs. XIII -XV) e no CIDEHUS-UÉ no projeto MedCrafts – Crafts regulation in Portugal in the Late Middle Ages (14th-15th centuries). Tem trabalhado principalmente temas de história política e de história social.

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2021-12-19

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Artigos